
O dólar encerrou janeiro cotado a R$ 5,8355, acumulando queda de 5,6% no mês – a maior desvalorização desde o início de 2024, quando superava R$ 6,18. Com o resultado, o real tornou-se a segunda moeda que mais se valorizou globalmente ante a divisa americana, atrás apenas do rublo russo (6,8%). A trajetória contrasta com 2023, quando o Brasil fechou o ano entre os países com maior desvalorização cambial (27%), impulsionada por incertezas após o anúncio de um pacote fiscal polêmico em novembro.
A reversão em 2024 reflete fatores externos e internos. No plano internacional, o temor de medidas protecionistas de Donald Trump – que ameaçava tarifas comerciais agressivas – perdeu força após o republicano adiar promessas de taxações e adotar tom mais moderado em relação à China. Internamente, os juros altos no Brasil (Selic a 14,25% até março) atraíram investidores estrangeiros em busca do *carry trade*, estratégia que aproveita diferenças entre taxas globais. “O discurso menos agressivo de Trump reacendeu expectativas de cortes de juros nos EUA, tornando ativos brasileiros mais atrativos”, explica Emerson Junior, da Convexa.
Apesar do cenário positivo, analistas alertam para riscos. A tensão geopolítica entre EUA e países dos Brics, além de possíveis reviravoltas na política fiscal brasileira, podem alterar a rota. “O jogo segue aberto. A Selic ainda é central, mas qualquer turbulência global pode virar o jogo rapidamente”, pondera Christian Iarussi, da The Hill Capital. Enquanto o mercado digest notícias do exterior, o real mantém-se sob os holofotes, equilibrando oportunidades e incertezas.