Javé, Israel, Palestina e a face negra das religiões

Acreditamos ser conveniente associar as religiões às raízes do atual conflito que envolve Israel e o grupo terrorista Hamas na Palestina. Estimular a polêmica é imprescindível, e foi com esse propósito que há cerca de duas semanas escrevi um curto poema com que busquei contribuir para o enfoque de tão controverso assunto neste momento difícil da humanidade. O poema, intitulado Oriente Médio, diz o seguinte:

“Judeus, cristãos e muçulmanos,
Produtos da mesma maçã reptiliana
Gestada pela mente pestilenta de Javé

Queimem o Torá,
Rasguem a Bíblia,
Abaixo o Alcorão

Digam não à lógica fria da barbárie,
Digam não às religiões
Antes que Javé invente
Um novo patíbulo para Jesus na Terra !”

Com o poema, procuro provocar reflexão, chamando a atenção para a face negra das religiões que durante milênios, segundo alguns estudiosos de ciências ocultas, estariam sendo manipuladas por um ser chamado Javé, conhecido nas culturas ocidentais e orientais como YHWH, Allah e Brahma. Há quem atribua a criação das religiões à obra de seres extraterrestres na Suméria, no princípio da colonização do planeta Terra por esses seres, obra acompanhada pelo tal Javé de conformidade com seu objetivo de conquistar status de divindade, o que parece ter conseguido com o tempo, como demonstram as literaturas de diversos povos afirmando-o como uma espécie de “Deus”. Aliás, ressalte-se que “Deus” é uma palavra surgida na antiga Grécia e habilmente trabalhada principalmente pela religião católica para massificar seu discurso de domínio da raça humana.

Ao longo de milênios, Javé, YHWH, Allah ou Brahma primeiro teria eleito os israelitas como seu povo predileto, o povo judeu, que deveria ser a raça majoritária no planeta. Como Brahma, ele elegeu a raça ariana e como Allah escolheu os árabes como seus favoritos no Planeta Azul. Alguns ocultistas sustentam que Javé jogava desse modo para manobrar em seu favor o tabuleiro do poder político terreno, conduzindo e controlando as tribos que foram surgindo nos mais variados pontos da Terra após o advento da Suméria.

Pelo que parece, Javé está por trás dos muitos conflitos envolvendo os seus “povos escolhidos”, conflitos esses que sempre tiveram como palco maior o Oriente Médio, dizem os ocultistas que o questionam. Javé usou Moisés e Maomé para realizar seus caprichos e tentou usar até Jesus para garantir o monopólio da raça humana. Como demonstram a Bíblia católica e o Alcorão, Moisés e Maomé contracenaram com tais caprichos, mas Jesus, não. Este ousou discordar da agenda que Javé queria lhe impor, rejeitando a ideia de liderar um movimento político-militar visando a derrubada do Império Romano e a fundação de um império judeu na Terra. Por rejeitar o despautério, Jesus acabaria crucificado sob ordem de Javé, que articulava o império para se consolidar de vez como “Deus dos humanos”, como narram estudiosos que vasculharam documentos antigos para chegar a tal conclusão, incluindo os Evangelhos apócrifos

De Alexandre, O Grande, a Adolph Hitler

Sem dúvida que a compreensão das raízes do evento belicoso que confronta hoje judeus e palestinos na Faixa de Gaza passa pelo “Deus” bíblico Javé, assim como pode estar ligada às sagas de líderes dos povos celtas, filisteus, egípcios e outros no Oriente Médio, particularmente em Gaza, um território visto milenarmente como um barril de pólvora e onde os judeus chegaram um dia através de Abraão, deslocado por Javé da cidade de Ur, situada na foz do rio Eufrates, no Golfo Pérsico, para habitar a Palestina e cumprir uma agenda determinada por ele. Daí em diante se desenrolam uma série de conflitos que, dentre outras consequências históricas, produziriam o célebre duelo Davi x Golias, a libertação do povo hebreu das garras do faraó egípcio Ramsés II e outras batalhas tribais até a consumação da eleição do rei Saul. Note-se que a vitória de Davi sobre o gigante Golias asseguraria aos hebreus o direito sobre parte das terras palestinas.

A série de conflitos também abrange o Império Aassírio, que destriu o reino de Israel em 722 AC, bem como a performance de Alexandre, O Grande, que derrotou Dario III e tomou de assalto o território palestino, que caiu nas mãos do imperador romano Constantino em 324 d.C e depois sofreu sob o tacão do Império Otomano durante a Idade Média.

Igualmente, não se pode olvidar Adolph Hitler nessa história de trágicos capítulos para a humanidade, que também enfatiza a saga dos judeus no mundo, judeus que, antes perseguidos e humilhados, hoje perseguem, humilham e matam palestinos civis, inclusive crianças, sem piedade. O grupo Hamas, como não poderia deixar de ser óbvio, não fica atrás com relação às atrocidades perpetradas na Faixa de Gaza, com a força do componente religioso. Na verdade, ali o extremismo religioso está associado ao extremismo político, social e moral.

Ciência e tecnologia poderão mudar o cenário ?

É indescritível como o viés religioso tem marcado a humanidade nas tragédias que acometem os povos da Terra em milênios de guerras ditas santas ou tribais. Talvez agora, com a evolução da ciência e da tecnologia, as igrejas e as religiões sejam forçadas a se reformular para poderem sustentar sua influência junto as massas populares e continuarem fortes em suas relações com os Estados políticos. Os especialistas se dividem acerca do assunto, uns achando que sim, outros preferindo o ceticismo.

De uma forma ou de outra, espera-se que o presente conflito no Oriente Médio acenda uma nova polêmica sobre o futuro das religiões. Acreditamos que a questão palestina forneça agora o combustível precioso para o questionamento, deste lado do Ocidente, do papel das igrejas enquanto instituições históricas e sociais. Urge aproveitar as redes sociais para o questionamento das igrejas enquanto centros de poder ideológico e enquanto manipuladoras de consciências, funcionando como instrumentos de alienação do homem, travando-lhe o raciocínio e condicionando o seu modo de pensar aos dogmas pueris ditados por arcebispos, bispos, cardeais, padres e pastores. É importante que se questione por que as igrejas não se engajam mais com firmeza no processo de esclarecimento e libertação social e política do homem em nome do amor incondicional e de um verdadeiro reino de felicidade na Terra. Posto está que é na Terra, e não em nenhum Céu fictício, que o homem existe e sofre.

Acreditamos que, engajando-se nas lutas de libertação do homem, as igrejas poderão resgatar sua sagrada missão no mundo. Mas, para tanto, terão que se reformular, mudar suas atuais estruturas corruptas. As igrejas precisariam ser chacoalhadas por dentro, como quis fazer o papa João Paulo I em 1978, sendo, infelizmente, ou criminosamente, envenenado por isso. Só se transformando é que as igrejas se reaproximariam de Jesus Cristo. Atualmente, elas andam muito distantes Dele, mais preocupadas com enriquecimento material do que dispostas a ensinar o homem a crescer compreendendo o jogo de forças da sociedade em que vive e agindo para se impor nesse jogo.
Humanismo transformador

Acreditamos que só se reformulando é que as igrejas seriam consequentes, precursoras de um humanismo voltado para socorrer o homem real, ajudando-o a entender e transformar positivamente as relações sociais que o aviltam, em busca de dias melhores. É esse humanismo militante que precisa ser resgatado pelas igrejas. É horroroso que elas se acomodem apenas como contempladoras da infelicidade humana.

Portanto, o conflito Israel x Palestina hoje, mais do que nunca, precisa ser aproveitado nas redes sociais para fomentar debates sobre o novo papel que as igrejas devem desempenhar, as igrejas receptivas à discussão democrática sobre a história da Terra e do Universo sem o viés sectário com que as religiões endeusam o reino de Javé. Quem é Javé ? De onde veio ? Por que criou um Universo tão imperfeito e por que, em tempos remotos, tomou partido por tribos com as quais promoveu mil atrocidades que mancharam de sangue a história humana ? Por que quis assassinar um filho do seu mais fiel escudeiro, Abraão, só para pô-lo à prova ? Um Deus Supremo não precisaria fazer isso, e Javé certamente não é o Deus Supremo que imaginamos existir, não é o criador de todas as galáxias, princípio de tudo.

Tais questões poderão ajudar nos questionamentos e debates que carecem de ser encetados nas redes sociais, atingindo patamares mais profundos, além do que se vê no Youtube. Questionar dogmas que não se sustentam à luz do senso crítico é tão necessário quanto urgente. Tudo indica que Javé nada tem a ver com o conceito de um Deus incognoscível, supremo, como manifestam os hindus. E, por falar nos hindus, tomara seja a hora de se valorizar a leitura de preciosidades como o Livro de Urântia ou o Mahabharata, uma interessante obra composta por 18 livros e que contém os cantos do Bhagavad Gītā, cantos tão festejados na obra musical Gita, de Raul Seixas ? Ler e debater obras assim nos parece um ótimo começo para se conhecer melhor Javé e iniciar a sua desmistificação. As redes, neste instante, são uma excelente tribuna para aclarar as coisas acerca de Javé e para o homem se descobrir como sujeito de um humanismo integral que tem que ser buscado, um humanismo capaz de dar vitalidade à máxima do amor ao próximo como um valor real e não como um chá de alienação mental e social dos indivíduos. Livrar o homem de tudo o que o torna impotente e infeliz é o dever maior das igrejas. É hora de elas serem sensibilizadas a cumprir esse dever, pondo um fim ao império da corrupção que enlameou as congregações religiosas através dos séculos.
Satanás no controle dos tesouros

Irônicos, inúmeros especialistas afirmam que se Sataná existir, com certeza deve ser ele o administrador dos tesouros fantásticos acumulados pelas igrejas no globo terrestre. A paixão ou ganância pelos “bezerros de ouro” há muito nivelam católicos e os ditos evangélicos.

Segundo o jornalista investigativo David Yallop, autor do livro Em Nome de Deus, em que desnuda a trama que resultou no assassinato do papa João Paulo I (Albino Luciani), em 1978, um jornal suíço estimou, em 22 de julho de 1970, entre 50 e 55 bilhões de francos suíços a fortuna do Vaticano, o equivalente a 13 bilhões de dólares. Provavelmente por causa disso o escritor, poeta e político Dante Alighieri escreveu: “Oh, Constantino, quantas desgraças causaste não por te teres tornado Cristão, mas pela dádiva que o primeiro padre rico aceitou de ti”. Dante referia-se ao imperador romano Constantino que, convertido ao cristianismo, no século IV, doou uma fortuna ao papa Silvestre I, transformando a fé católica em um problema fiscal que levou ao assassinato de João Paulo I, um crime que até hoje desafia e indigna os que lutam para abrir a “caixa preta” da hedionda Cúria Romana e seus cardeais-prefeitos.

No século XX, Benito Mussolini, em 1929, com o Tratado de Latrão, contemplou a Igreja Católica com uma série de privilégios, reconhecendo a Santa Sé como um estado soberano, isento do pagamento de impostos. Deu-lhe imunidade diplomática e impôs o ensino religioso católico em todos os liceus oficiais. De quebra, proibiu o divórcio.

Em 1929, o Duce premiou o Vaticano com 750 milhões de dólares. Evidentemente o papa da época agradeceu a usura em nome de Deus. Para proteger tão generosa fortuna e os negócios milionários consequentes dela, a Igreja Católica Apostólica Romana cuidou de criar concílios (Arles, em A.D.314), Niceia (325), Cartago (345), Aix (789) e Latrão (1139) em que criou normas para exercer forte influência na conjuntura financeira em escala planetária. A excomunhão punia quem ousasse contestar suas normas.

Foi assim que o Vaticano mergulhou no lucrativo mundo dos negócios, passando a investir vorazmente em vários países. Em nome de Deus e da fé, atirou-se à especulação, entrando firme no jogo da Bolsa de Valores, conforme David Yallop que, em outro livro, O Poder e a Glória – O lado negro do Vaticano de João Paulo II, escancara segredos escuros da Igreja Católica.

Recentemente o próprio Papa Francisco deixou escapar que a Igreja, com 2,1 bilhões de seguidores no mundo, possui US$ 3 trilhões em bens imóveis. Não é à toa que o Banco do Vaticano ganhou a fama de ser um dos maiores paraísos fiscais offshore do planeta, um campeão de evasões de impostos e lavagem de dinheiro. A fama, vale dizer, provocou a renúncia do Papa Bento XVI. O escândalo que enodoa o Banco é contado no livro “Sua Santidade: As Cartas Secretas de Bento XVI”, de Gianluigi Nuzzi.
O livro negro do cristianismo

Outro livro bombástico sobre a ganância e a usura das igrejas é o “Dois mil anos de crimes em nome de Deus”, de Jacopo Fo, Sérgio Tomat, Laura Malucelli. Na obra, os autores mostram o perfil corrupto da Igreja Católica e os seus atos a favor da escravização de negros e do massacre de índios na América Espanhola.

Vejam este trecho do livro: “Chegando a este ponto, a Igreja (católica), faminta por expansão, passou a dedicar-se às conquistas coloniais. São os sacerdotes os primeiros colonizadores da África negra. Encontramos padres ao lado dos conquistadores espanhóis, que massacraram os índios da América espanhola. Foram os padres que organizaram o comércio de escravos”.

“Na verdade, foi o próprio Estado da Igreja que ordenou, em 1344, a conquista das Ilhas Canárias. E provavelmente foi o bispo De Las Casas, após a conquista da América, que sugeriu que os indígenas, que não suportavam o trabalho massacrante e as doenças levadas pelos colonos, fossem substituídos por africanos. Assim, desde o início de 1500, os missionários da África começaram a organizar a exportação de escravos para a América, equipando os navios “missionários” para tal fim. Fala-se e de dezenas de milhões de ameríndios mortos em batalha ou aprisionados, exterminados por doenças e pelo cansaço. O desastre foi tamanho que se calcula que, só no México, a população tenha passado de 25 milhões de índios, em 1520, a menos de um milhão e meio em 1595”.

Enriquecimento anticristão

Mas, se os católicos, desde os tempos inquisitoriais da Idade Média usam a fé para se deliciar no enriquecimento ilícito e anticristão, os líderes evangélicos não ficam atrás nos tempos modernos do Século XXI, como divulgou a revista “Forbes” nos anos 2013 e 2022. O ranking da revista mostrou a liderança do bispo Edir Macedo, com fortuna estimada em R$ 2 bilhões. Com 1,2 milhões de seguidores no Instagram, o bispo não diz uma palavra “sagrada” nas redes sociais que não vire moeda de ouro entre os seus fiéis.

A escalada da corrupção entre os líderes religiosos tem sido um dos fatores a contribuir para o afastamento dos jovens das igrejas e dos templos espalhados pelo planeta. No Brasil, o Censo de 2010 apontava em 8% os jovens sem religião, o equivalente a mais de 15 milhões de pessoas. Em 2022, pesquisas do Instituto Datafolha mostraram 49% dos entrevistados se dizendo católicos, 26% evangélicos e 14% sem religião. O maior contingente de desencantados envolve jovens de 16 a 24 anos, na ordem de 25% . Rio de Janeiro e São Paulo são os estados com maior número de jovens “sem religião”.

Por isso, questionar os dogmas e as práticas das igrejas torna-se um imperativo para o bem das próprias instituições religiosas que precisam rever conceitos que cada vez mais, por terem sido metidos goela abaixo dos fiéis nos tempos antigos, perderam o sentido com a evolução da ciência e o surgimento das redes sociais, que agora encorajam pesquisadores e sensitivos a virem a público, a maioria usando a tribuna do Youtube, para colocar novas luzes acerca da história do planeta Terra e do seu papel perante as comunidades cósmicas na galáxia que habitamos.

Nova consciência planetária

Urge que as igrejas mudem de parâmetros e entendam que a solidariedade para com alguns bilhões de pobres será capaz de criar uma nova consciência planetária, uma nova cultura humana, como alardeia o professor e teólogo Leonardo Boff, correta quanto às demandas ambientais e socialmente justa, honrando o ideal do amor incondicional pregado por Jesus Cristo há 2023 anos.

Quanto ao desdobramento do conflito Israel/Hamas/Palestina, vale a pena citar manifestação do grupo Judias e Judeus pela Democracia São Paulo, publicada pela colunista Mônica Bergamo no jornal Folha de São Paulo: “Defendemos veementemente o direito de palestinos e israelenses a terem um território onde possam viver em paz, de forma soberana e sob regimes verdadeiramente democráticos. Nos posicionamos pelo fim das ocupações e dos assentamentos. Repudiamos fundamentalismos, teocracias, regimes autoritários e de terror”. A criação do Estado Palestino deve, pois, prevalecer. Não pode ser adiado.

A bem da verdade, somos todos iguais. Brasileiros, norte-americanos, israelenses, palestinos, ingleses ou chineses, somos irmãos no chão terrestre. O código genético é o mesmo em todos os seres vivos, o que transcende qualquer dogma religioso ou filosófico. Somos todos um só coração, irmãos cósmicos vivendo jornadas em nossa amada Terra !

*Por Juscelino Taketomi