O JESUS DE HOJE

Era uma vez um menino negro chamado Jesus, que nasceu numa favela, filho de um marceneiro com uma dona-de-casa. Na adolescência, ele andava nas quebradas entre gays e prostitutas, falando de Deus.

Uma vez perguntaram o que ele achava de prender mulheres que abortavam. Ele disse que quem não tivesse pecado podia prender. Os pastores, que sempre julgavam os outros, não gostaram. Ele disse que rico não entra no céu, mas um mendigo pode entrar. Os pastores, em seus carros luxuosos e mansões, não gostaram. Ele disse que era preciso perdoar o irmão 77 vezes 7 vezes. Os pastores, que só ensinavam a odiar, também não gostaram.

Um dia Jesus foi delatado por um amigo, sob a acusação de apologia ao crime. Diziam que ele defendia maconheiro, ladrão e favelado. Ao ser preso, outro amigo puxou a faca pro soldado. Jesus não era armamentista nem a favor da violência. Pediu calma e seguiu pro seu destino.

Os policiais ainda estavam contrariados e se questionavam entre eles o que Jesus havia feito de grave realmente. Os pastores e os religiosos do bairro xingavam Jesus e gritavam “Prendam-no! Prendam-no! Bandido bom é bandido morto!”.

E assim Jesus entrou na viatura e nunca mais foi visto, conforme a vontade daqueles religiosos. Alguns dizem que ele foi morto pela polícia. Outros, que morreu no presídio. Outros dizem que Jesus ainda vive. Em cada pessoa pobre ou discriminada diariamente pelos mesmos religiosos que condenaram Jesus.

Assim seria Jesus, se tivesse nascido e morrido nos tempos de hoje. E quem somos nós? Os que que lançam discursos de ódio e violência ou os que aprendem com o exemplo de amor, igualdade, tolerância e perdão que Jesus deixou para nós?

Que a morte de Jesus não tenha sido em vão. Uma semana santa de muita reflexão e oração para todos. 🙏🏻

Foto: “O Jesus da gente”, representado pela Mangueira em 2020 e encarnado nas minorias oprimidas: negros, indígenas, mulheres, crianças e adolescentes das periferias, vítimas de extermínio por armas de fogo. O enredo era “A verdade vos fará livre”.