Preso homem que agrediu mulher por achar que ela era trans

“Na cabeça dele, homossexualidade é doença, é problema", disse ex-companheira, que também foi vítima e reconheceu o caminhoneiro nas cenas que circulam nas redes sociais.

Antônio Fellipe Rodrigues Salmento de Sá: esse é o nome do homem que agrediu uma mulher cis pensado que era trans quando ela saía do banheiro do bar Guaiamum Gigante, no Recife, no último sábado (23).

Salmento de Sá é caminheiro e foi identificado pela ex-companheira que, em entrevista à afiliada da Globo em Pernambuco, relatou que ele tem um longo histórico de violência, misoginia e homofobia.

“Na cabeça dele, homossexualidade é doença, é problema. Ele tem essa realidade na cabeça dele”, disse a mulher, que também já foi vítima do caminhoneiro. Ela diz que o identificou pelas imagens que circulam no X, antigo Twitter, que foram divulgadas primeiramente pelo perfil @metheoro, de um publicitário amigo da vítima.

“Eu fiquei transtornada [com a agressão] porque eu senti na pele o que aquela mulher sentiu. Aquele sentimento de impunidade, de ter passado por uma violência física e não ter acontecido nada contra o agressor”, disse a ex-companheira.

Ela relata que passou por inúmeros casos de violência física e psicológica durante o relacionamento “não só em casa, mas na rua também”.

“Ele é muito homofóbico. Ele é muito preconceituoso. Já teve vez de a gente ter que sair de onde a gente estava porque, depois que ele bebe, ele começa a julgar as pessoas. Ele começa a soltar graça, sabe? Você sente vergonha”, declarou.

“Certeza que foi transfobia”

A vítima da agressão, que não quis ser identificada, afirmou também à Globo de Pernambuco que tem “certeza que foi transfobia”.

“A certeza é que foi transfobia, apesar de eu ser uma mulher cis. Na cabeça dele, eu não era. Na cabeça dele, eu era a pessoa trans, aquela mulher trans que merece apanhar, que merece morrer, que merece ser agredida num espaço público onde está confraternizando”, afirmou a mulher, de 34 anos.

Segundo ela, o caminhoneiro deu um soco em seu rosto após indagar se era “homem ou mulher” na saída do banheiro feminino. Ao questionar o motivo da pergunta, a mulher foi agredida.

“Apesar de eu ser uma mulher cis, na cabeça dele eu era uma pessoa trans. Na cabeça dele eu era uma mulher trans usando o banheiro feminino e, na cabeça dele, isso era inadmissível, porque ele tem um grande ódio em relação a isso, sabe? Uma pessoa daquelas que nutrem ódio pelo que não querem conhecer, o que não quer viver, seja porque é mal resolvido com alguma coisa”, afirmou.

Ela ainda acusa o estabelecimento de não prestar assistência.

“É inadmissível que um estabelecimento comercial permita que uma agressão dessa aconteça e não preste assistência à vítima no sentido do acolhimento, porque quando você escolta o agressor para fora, a vítima não se sente acolhida, a vítima se sente abandonada. Eu, a pessoa agredida da situação, me senti desassistida, porque a pessoa que precisava estar lá quando a polícia chegou não estava e teve a saída facilitada pela equipe do bar”, afirmou.

Proteção ao agressor

No domingo (24), o bar Guaiamum Gigante divulgou nota em que afirma que “não procede a alegação de que teria havido proteção a um suposto agressor”.

“O Guaiamum Gigante adotou imediatamente as providencias cabíveis para resolver a situação, inclusive acionando a força policial e dando todo suporte à vítima”, diz o texto.

No entanto, os internautas apontaram um erro do estabelecimento, que afirmou na nota que “cuidou de promover a imediata retirada do agressor do ambiente, de modo a resguardar a integridade física e psicológica da pessoa agredida e demais clientes”.

“Isso é cúmplice de fuga isso sim! Deveria ter mantido o mesmo no local até a chegada da polícia, mesmo que protegido”, comentou o ator Taywan Rocha na publicação.