Morre Nana Caymmi, ícone da música brasileira, aos 84 anos

Artista estava internada desde agosto, quando deu entrada para tratar uma arritmia cardíaca.

RIO — A música brasileira perdeu, nesta quinta-feira (1º), uma de suas vozes mais profundas e emotivas. Nana Caymmi, cantora de timbre inconfundível e intérprete de clássicos como Resposta ao Tempo e Beijo Partido, faleceu aos 84 anos, no Rio de Janeiro, em decorrência de complicações cardíacas. Ela estava internada há nove meses na Clínica São José.

Filha de Dorival Caymmi e Stella Maris, Nana foi uma artista marcada por intensidade, talento e coragens próprias — na arte e na vida. Começou no piano, ainda criança, e estreou em disco com o pai, em 1960, na canção Acalanto. Ao longo das décadas seguintes, atravessou fases difíceis, amores conturbados, afastamentos familiares e vaias em festivais, para emergir como uma das grandes damas da canção brasileira.

Nana encontrou reconhecimento popular mais tarde, em 1998, com Resposta ao Tempo, bolero moderno que embalou a minissérie Hilda Furacão. A faixa abriu as portas de um novo público, selando seu lugar não apenas entre os grandes da MPB, mas também no coração de uma geração que, até então, não conhecia sua elegância interpretativa.

Na trajetória, deixou discos marcantes, parcerias com nomes como Milton Nascimento, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e uma obra que resistiu ao tempo — lírica, sofisticada e profundamente emocional.

Sua última apresentação foi em 2015, no Sesc Pompeia. Desde então, afastada dos palcos, deixou como legado sua voz eterna e uma sensibilidade artística rara. A última imagem pública de Nana surge no documentário Dorival Caymmi – Um Homem de Afetos, no qual canta à capela Não Tem Solução — como se se despedisse, cantando o que sentia até o fim.

Nana Caymmi parte, mas sua música permanece — como nascente límpida, da qual, como ela mesma dizia, “molhar o rosto é um delírio”.