Morre mãe que enfrentou câncer terminal para dar à luz

Ela faleceu em casa, após ter alta para cuidados paliativos, pois a cura já não era mais possível.

VITÓRIA, ES – Pâmela Souza, que comoveu o Espírito Santo ao lutar contra um câncer avançado enquanto dava à luz seu filho Ravi, faleceu nesta terça-feira (1º), em casa, cercada pela família. Ela havia recebido alta do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam-Ufes) para cuidados paliativos, após médicos confirmarem que a cura já não era mais possível. A história de Pâmela, marcada por coragem e amor incondicional, deixa um legado de superação e esperança representado pelo pequeno Ravi, que segue internado na UTI Neonatal do mesmo hospital.

O parto de Ravi foi realizado em condições raras e desafiadoras, mobilizando equipes multidisciplinares do Hucam. Com apenas 28 semanas de gestação, o nascimento precisou ser antecipado devido ao estágio avançado da doença de Pâmela. O bebê nasceu pesando 1,2 kg e, apesar das dificuldades inerentes à prematuridade, apresenta quadro estável e tem ganhado peso gradualmente, embora ainda não tenha previsão de alta.

Uma Gravidez Inesperada e Cheia de Desafios

Segundo relatos de Rilles de Souza, marido de Pâmela, a gravidez foi uma surpresa para o casal. Após anos tentando realizar o sonho de ser mãe, Pâmela engravidou em um momento delicado: ela já enfrentava um tumor cerebral controlado após tratamentos de quimioterapia e radioterapia pelo SUS. No entanto, a gestação reativou a doença, limitando as opções terapêuticas para combater o câncer. Mesmo assim, Pâmela decidiu seguir em frente com a gravidez, determinada a dar vida ao filho que sempre desejou.

“Nesses 10 anos de casamento, ela sempre quis ser mãe, sempre quis ter um filho. E foi uma gravidez de surpresa. Todos aqui no Hucam nos abraçaram. Mas ela estava em estágio terminal de um câncer na cabeça. Não sabíamos se ela iria voltar da sala de parto com vida”, disse Rilles emocionado.

Após o parto bem-sucedido, Pâmela permaneceu internada, mas o avanço do tumor já limitava suas interações conscientes e afetava sua visão e movimentos. Mesmo assim, ela teve um momento único e emocionante: seis dias após o nascimento de Ravi, conseguiu vê-lo pela primeira vez. O encontro foi capturado em vídeo pela família e compartilhado como um símbolo de força e amor maternal.

Um Encontro Marcante Entre Mãe e Filho

No dia 12 de fevereiro, Pâmela recobrou a consciência por tempo suficiente para segurar Ravi nos braços. “Ela sorriu, pronunciava o nome dele e agradecia aos profissionais que estavam ao redor”, relembrou Rilles. Para ele, aquele momento foi uma vitória dentro de tantas adversidades. “Parei minha vida profissional para cuidar dela, para honrá-la na saúde e na doença. O amor tudo vence”, afirmou.

A obstetra Carolina Ferrugini, chefe da Unidade Materno-Infantil do Hucam, explicou por que o caso foi tão especial para a equipe médica: “Trata-se de uma doença rara, o que, por si só, torna o caso especial. Além disso, a gravidez durante tratamento com rádio e quimioterapia não é algo comum. Ela resistiu tempo suficiente para levar a gravidez até uma idade gestacional que viabilizava a vida do bebê. Temíamos que ela não resistisse ao parto”.

Legado de Amor e Resiliência

Pâmela será sepultada às 14h desta quarta-feira (2), no Cemitério de Maruípe, em Vitória, conforme informou a família. Seu legado, no entanto, permanece vivo através de Ravi, que simboliza a luta e o amor de uma mãe que enfrentou todas as adversidades para garantir a vida do filho.

O Hucam-Ufes, que faz parte da Rede Ebserh vinculada ao Ministério da Educação (MEC), destacou a importância do caso como exemplo do trabalho integrado entre assistência, ensino e pesquisa desenvolvido nos hospitais universitários federais. A história de Pâmela e Ravi emocionou profissionais de saúde, pacientes e milhares de pessoas, reforçando o poder do amor e da resiliência humana mesmo diante das maiores adversidades.