Líbano recebe pedido da Interpol para prender Carlos Ghosn

O Líbano não tem acordo de extradição com o Japão.

O Líbano recebeu um pedido de prisão da Interpol contra Carlos Ghosn, ex-executivo do setor automotivo que fugiu do Japão para Beirute – anunciou o ministro libanês da Justiça, Albert Sarhane, nesta quinta-feira, 2. Ghosn, de 65 anos, tem cidadania libanesa, francesa e brasileira. Ele estava detido em prisão domiciliar no Japão acusado de fraudes financeiras mas fugiu do país na última segunda-feira.

“O Ministério Público (…) recebeu um alerta vermelho da Interpol sobre o caso Carlos Ghosn”, disse Sarhane, citado pela agência de notícias oficial ANI.

O ex-chefe da aliança Renault-Nissan deixou o Japão em um jato particular. Ele fez uma escala na Turquia, onde teria apresentado um de seus passaportes franceses e também usou o documento para entrar o Líbano. Ele tinha autorização da justiça japonesa para manter o passaporte trancado em uma mala enquanto seus outros três documentos (um francês, o libanês e o brasileiro) permaneciam sob controle de seus advogados.

A Interpol não emite mandados de prisão e não pode iniciar investigações, ou processos, mas os países-membros e tribunais internacionais podem solicitar a publicação de “alertas vermelhos”. Esses avisos de busca internacional são baseados em mandados de captura nacionais, cujas informações são transmitidas aos outros membros por meio de um banco de dados seguro.

As autoridades libanesas já anunciaram que Ghosn entrou no país “legalmente”, com um passaporte francês e uma carteira de identidade libanesa, segundo uma fonte da Presidência. Já a Segurança Geral assegurou que nada impunha “a adoção de procedimentos contra ele”, nem “o expunha a processos judiciais” no Líbano.

O ministério das Relações Exteriores do Líbano também lembrou que não há “acordos de cooperação judicial”, ou de extradição com o Japão.

Ghosn, que chegou a ser o empresário mais bem pago no Japão e uma referência mundial no setor automobilístico, foi preso em novembro de 2018 e respondia em prisão domiciliar desde abril do ano passado. Ele é alvo de quatro acusações no país: duas por sonegação fiscal, por não declarar seus reais rendimentos às autoridades da Bolsa, e outras duas por quebra de confiança agravada.

Em novembro, o advogado do executivo, Takashi Takano, falou a VEJA. Segundo ele, a prisão de Ghosn seria uma retaliação de executivos da Nissan contra o processo de fusão com a Renault  “Ele foi vítima de um complô do governo japonês com altos executivos da Nissan”, acusa ele. A esposa de Ghosn também acusou o governo de conspirar contra o executivo. “É uma lista sem fim de injustiças. Ele passou 130 dias na solitária sem acusação formal. Por que não o tratam como inocente até que se prove o contrário? Meu marido é tido como culpado antes que possa se defender”, disse Carole.

Por VEJA