Indígenas escolhem novo cacique da comunidade Parque das Tribos

A orientação do órgão, que consta no Plano de Segurança Sanitária, tem como objetivo combater a propagação do vírus nas Eleições 2020. ─ Foto: Divulgação

Moradores do Parque das Tribos, localizada no bairro Tarumã Açu, Zona Oeste de Manaus, participam neste sábado (15) da eleição para a escolha do novo líder da comunidade. Falecido em 13 de maio por complicações decorrentes da Covid-19, o cacique Messias Kokama exercia a função desde a inauguração do Parque, há seis anos.

A votação, que começou na manhã e encerra às 17h e acontece no Centro de Educação Indígena, é restrita a pessoas com idade a partir de 18 anos, que devem apresentar documento com foto.

De acordo com a tradição local, a sucessão no comando deve ser assumida pelo filho do antigo cacique. No entanto, cinco dias após o enterro, um advogado da etnia munduruku promoveu uma mobilização para a escolha da nova liderança, da qual inicialmente participariam três chapas, e anunciou a decisão de disputar o pleito.

Embora considerasse a medida equivocada, o filho de Messias, Miquéias Kokama, foi buscar orientações junto a órgãos como o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para realizar a eleição conforme as normas legais. Hoje, ele divide a liderança da única chapa concorrente com Lutana Kokama, candidata a vice-presidente e co-fundadora do Parque das Tribos.

“Queremos dar continuidade às parceiras em termos de educação, esporte e lazer, incluindo a preservação das tradições, como comidas típicas e rituais”, propõe Miquéias. “Fechamos parceria com uma empresa para a construção de uma grande maloca na comunidade e, dessa forma, preservar nossa área verde”, acrescenta.

“Esperamos que ele dê atenção especial aos indígenas, pois na cidade somos esquecidos pelo poder público”, afirma a professora do Centro, Cláudia Baré. Cerca de 4 mil pessoas vivem no local, distribuídas em 700 famílias de diversas etnias, como Desana, Marubo, Mura e Karapãna, entre outras.

Baré ressaltou a iniciativa pioneira do falecido chefe na organização da comunidade e lembrou que, apesar de algumas “decisões impopulares, mas necessárias”, Messias enfrentou interesses da iniciativa privada, que utilizava o aparato legal para obter o domínio de terras indígenas.

“Ele veio na frente, fez a marcação dos lotes e buscou benefícios com o auxílio de outros caciques. Conhecia muito bem as leis que amparam os indígenas. Sentimos muito a ausência dele”, conta.

*Reportagem: Daniel Amorim/ACrítica