Filmes clássicos voltam aos cinemas como estratégia contra streaming

Titanic, Harry Potter e Crepúsculo são alguns dos longas que voltaram para as grandes telas recentemente. Eles passam por remasterização e até 3D, para atrair o público. Segundo especialistas no mercado, o retorno é motivado pela baixa produção de filmes de médio investimento, que agora vão para o streaming, e servem também para sondar o público para futuros lançamentos.

Vinte e cinco anos depois, um dos maiores clássicos do cinema mundial volta à grande tela. Titanic, o filme sobre o naufrágio de um dos mais famosos navios do mundo, que bateu recorde de bilheteria no final dos anos 1990, agora retorna aos cinemas brasileiros. E essa volta, marcada para fevereiro, já está deixando os fãs ansiosos.

A advogada Luísa Côrtes é fã desse clássico e garante que vai voltar ao cinema para assisti-lo. Até a fantasia da protagonista Rose, interpretada pela atriz Kate Winslet, já está separada.

‘Eu sou muito fã de reassistir as coisas porque eu acho que sempre tem um detalhe novo para a gente ver e uma nova experiência para a gente ter com o filme. E o que me motiva para sair e para ver no cinema é porque a experiência do cinema é muito interessante. A gente consegue compartilhar aquele filme com várias pessoas, ter uma reação comum, ver a reação das outras pessoas. Sobre a volta do Titanic, eu vou ver com certeza e tenho um amigo viciado também e a gente já combinou que a gente vai junto. Eu estou até pensando em ir vestida a caráter, com aqueles vestidos românticos’.

Os relançamentos de filmes clássicos como Titanic têm sido uma prática frequente dos estúdios. Recentemente, também entraram em cartaz as sagas Harry Potter e Crepúsculo, além do sucesso de Steven Spielberg Jurassic Park. Os filmes são remasterizados, com uma nova tecnologia e som mais potente. Alguns longas, como o Titanic, podem ser vistos em 3D. Em geral, as empresas esperam o aniversário de lançamento do filme para exibi-lo novamente.

Fã de Harry Potter, o publicitário Pedro Meirelles aproveitou o relançamento e correu para assistir aos filmes de novo.

‘Eu nunca tinha visto nenhum filme do Harry em uma sala de cinema, porque antigamente eu não gostava, não acompanhava os filmes em cartaz, quando ia ter estreia. Só que tendo essa possibilidade de ir ao cinema ver o filme de outra forma, nossa, eu estou adorando, está sendo uma experiência muita massa. É completamente diferente de você estar sentado na sua casa e ver o filme pela televisão, então eu estou tendo essa oportunidade agora com as reprises’.

Os relançamentos dos clássicos nos cinemas pelos estúdios podem ter diferentes explicações, segundo especialistas ouvidos pela CBN. Uma delas é a lacuna deixada pela redução de produções de médio custo, como aponta o crítico de cinema Marcelo Hessel.

‘A produção americana de filmes, principalmente, afunilou entre os blockbusters muito caros, os filmes de super-herói e os filmes de terror de baixo orçamento, e isso acabou com toda a produção média, que fugia desses gêneros, que acabam dominando as salas e que hoje você encontra só no streaming, deixando de estar presente nas salas de cinema. Eu acho que o Avatar volta aí a mostrar que você pode atender todos os públicos, com outros tipos de gênero e que esse público está desassistido hoje em dia. Então o relançamento de alguns sucessos do ponto de visto da indústria é um tiro certo’, explica.

O professor de cinema José Ricardo Miranda Jr também avalia que o atual cenário de redução de produções, ainda como um efeito da pandemia e do crescimento do streaming, tem ligação direta com relançamentos no cinema. E destaca também o fato de esses filmes ajudarem a sondar o público para futuros lançamentos.

‘Por exemplo, a gente tem o Avatar 2 no cinema, do James Cameron, então a gente vai fazer o relançamento do Titanic, que era até um ano X, a maior bilheteria da história. Então você vai lidando com a conectividade de fenômenos, como Avatar 2, Avatar 1 com o Titanic, que são os últimos filmes do James Cameron. Eles aproveitam o momento de aquecimento do mercado e relançam experiências anteriores que as pessoas tiveram já no cinema. Então é uma forma de sondar o mercado, de entender até onde isso vai, o que o expectador está procurando, a um custo relativamente baixo’.

Os relançamentos no cinema têm gerado boa bilheteria. Prova disso é que a reexibição de Harry Potter e a Câmara Secreta, em novembro de 2022, para marcar os 20 anos do filme, atingiu R$ 3,5 milhões em ingressos apenas nos primeiros quatro dias de exibição. Com isso, o filme se tornou a segunda maior bilheteria do país no mês.