Estado ameaça deixar Festival de Parintins sem apoio

Parintins, AM — Os bumbás Caprichoso e Garantido estão em pé de guerra com o Governo do Amazonas depois que a Secretaria de Cultura do Estado lançou, inesperadamente, um edital de venda de ingressos para o 58º Festival de Parintins. Sem consultar os bumbás, a SEC propôs uma Dispensa de Licitação Eletrônica (DLE), colocando em risco um contrato existente até 2028 com a Amazon Best para a comercialização dos ingressos. O edital tem seu prazo final amanhã (19/12), às 23h59, provocando uma reação imediata dos presidentes dos bumbás, que exigem a suspensão do edital e a abertura de um diálogo.

Em entrevista ao programa “Manhã de Notícias” da Rede Tiradentes, o governador Wilson Lima deixou claro que o estado não deve mais bancar financeiramente o festival, sugerindo que os bumbás têm capacidade de se autossustentarem. A justificativa para o edital veio de uma decisão do conselheiro do TCE, Luiz Fabian, que foi posteriormente revogada pelo desembargador Flávio Pascarelli do TJAM, trazendo à tona uma disputa jurídica intensa.

A mudança na administração dos ingressos ameaça não só o modelo de financiamento dos bumbás, que depende dos adiantamentos da bilheteria para custear despesas ao longo do ano, mas também os patrocínios via Lei Rouanet, já que as agremiações passam a ser vistas apenas como produtoras de conteúdo.

O histórico de tensão entre governo e festival remonta a 2016, quando o então governador José Melo retirou o apoio financeiro, resultando numa edição simplificada do evento. Após aquele episódio, a venda de ingressos foi reformulada, passando das mãos da Tucunaré Turismo para a Amazon Best, aumentando consideravelmente a receita dos bumbás.

O contexto político atual sugere que a disputa pode ter motivações além do financeiro. Após a derrota da candidata apoiada por Lima, Brenna Dianná, nas eleições municipais de Parintins, o governador critica a porcentagem de lucro da Amazon Best, alegando ser excessivamente alta. A empresa, por sua vez, defende sua posição contratual, garantindo que os termos serão respeitados até 2028.

Este confronto coloca em risco a continuidade de uma das maiores festas folclóricas do Brasil, levantando questões sobre a autonomia cultural e a interferência governamental em eventos tradicionais.