Assistimos nas últimas semanas a uma tragédia sem precedentes no querido Rio Grande do Sul. As inundações registradas no RS durante o término de abril e início de maio de 2024, são fenômenos significativos de inundação nesse estado brasileiro. O governo local qualificou este evento como a “maior catástrofe climática” já vivida na história estadual.
É importante que se diga que, entre os dias 26 de abril e 2 de maio, do corrente ano, as precipitações alcançaram de 500 a 700 mm em diversas cidades, montante que representa cerca de um terço do volume médio anual histórico, enquanto que, em outras regiões, as chuvas variaram entre 300 e 400 mm. Segundo dados advindos do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), somente em maio, foram depositados no lago Guaíba cerca de 14,2 trilhões de litros de água, cifra esta que se aproxima da metade da capacidade do reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
Nesse norte, observa-se que mais de 60% do território gaúcho foi afetado pelas chuvas. Até o dia 13 de maio, às 9 horas, foram reportados prejuízos em 447 municípios, contabilizando 147 mortes, 127 desaparecidos e 806 feridos. Além disso, mais de 2,11 milhões de pessoas foram diretamente impactadas, e aproximadamente 619 mil necessitaram abandonar suas residências. A crise também provocou o corte no fornecimento de água para mais de 640 mil domicílios e a falta de energia elétrica para mais de 440 mil consumidores. Registra-se, ademais, que ocorreram diversos bloqueios em estradas estaduais, resultantes de deslizamentos de terra, inundações, destruições no asfalto, e quedas de barreiras e árvores.
Segundo os especialistas, um sistema de alta pressão atmosférica, atuando no Centro-Sul do Brasil, configurou um bloqueio atmosférico que obstou o avanço dos habituais sistemas meteorológicos (ciclone extratropical, frente fria, cavado) responsáveis por precipitações. É bem verdade que, nas regiões afetadas por este anticiclone, as temperaturas registraram um aumento de cinco a dez graus Celsius acima dos padrões históricos, conforme apontado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Em consequência disso, as áreas de instabilidade foram retidas no território do Rio Grande do Sul, concentrando as chuvas neste estado
Nessa vertente, o governo federal proclamou estado de calamidade pública no dia 5 de maio, data na qual o nível das águas do Guaíba atingiu 5,33 metros, superando a marca da histórica enchente de 1941. Por fim, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) estimou que os danos causados pelas enchentes somaram aproximadamente 4,6 bilhões de reais, com danos notadamente no setor habitacional, afetando cerca de 78% dos municípios do estado.
Nesse diapasão, é fundamental destacar a aproximação das eleições municipais de 2024, que oferecem uma oportunidade singular para que a população do Rio Grande do Sul, bem como dos mais de 5 mil municípios do Brasil, exerça um papel ativo na cobrança por compromissos claros e robustos dos candidatos quanto às questões ambientais. A tragédia climática recentemente vivenciada reforça a urgência de se adotar uma agenda verde, que priorize ações e políticas voltadas para a sustentabilidade e a resiliência ambiental.
Nunca é forçoso lembrar que a incorporação de políticas de defesa do meio ambiente nas plataformas eleitorais dos candidatos deve ser vista não apenas como uma resposta às demandas imediatas, mas como um investimento essencial para o futuro dos municípios. É imperativo que as propostas apresentadas pelos futuros gestores municipais contemplem medidas concretas para o manejo adequado dos recursos naturais, a preservação dos ecossistemas, a promoção de energias renováveis e a implementação de infraestruturas resilientes às mudanças climáticas.
Dentro dessa lógica, o desiderato almejado é uma verdadeira guinada em prol da sustentabilidade, que possa garantir não só a recuperação das áreas afetadas pelas recentes enchentes, mas também a preservação da qualidade de vida das futuras gerações em todo o Rio Grande do Sul e nos demais municípios do país. Portanto, as eleições municipais deste ano representam um momento decisivo para que os cidadãos demandem e apoiem candidatos comprometidos com um desenvolvimento que esteja em harmonia com o meio ambiente. É preciso mudar esse estado coisas, a população clama por ações concretas!
*Fábio de Souza Pereira, jornalista, professor, assessor jus-eleitoral e membro da ABRADEP.