Eleições regionais na Venezuela voltam a ter candidatos da oposição, de olho em 2024

Nas ruas de Caracas, funcionários do Conselho Nacional Eleitoral fizeram tutoriais de voto para os eleitores com dúvidas. (Foto: EPA / Miguel Gutierrez)

Os eleitores da Venezuela vão às urnas neste domingo (21), para a escolha de 23 governadores, além de prefeitos e vereadores. É a primeira vez desde 2017 que a oposição participa do pleito, que acontece sob a observação de enviados americanos e da União Europeia.

Cerca de 21 milhões de eleitores estão aptos a participar em todo o país, duramente atingido por uma grave crise econômica e a hiperinflação.

A participação da oposição é o resultado de negociações realizadas previamente no México entre o governo do presidente Nicolas Maduro e os opositores. O objetivo de Maduro é obter a redução das sanções internacionais contra o país, que asfixiam a economia venezuelana, privada de exportações de petróleo, sua maior riqueza.

Em troca, o presidente aceitou que dois dos cinco membros do Conselho Nacional Eleitoral não sejam seus aliados e convidou observadores externos da União Europeia e do Carter Center, organismo não-governamental sediado nos Estados Unidos, para acompanhar o pleito. É a primeira vez em 15 anos que os europeus retornam ao país com essa missão.

“Venho exercer o meu direito de voto em um país democrático. Cada eleição é uma dádiva para este país abençoado, apesar de todos os seus problemas”, disse o militante chavista José Casanova, 74 anos, à AFP, depois de votar no bairro popular de Petaré, em Caracas.

Oposição fragmentada favorece o regime

Passados quatro anos de boicotes, a oposição aceitou se apresentar e a expectativa é de que consiga vencer em até seis estados. Suas chances são fracas porque, em cada região, o regime bolivariano concorre com candidatura única, enquanto os opositores estão fragmentados em diferentes nomes.

Para Aura Hernández, de 67 anos, o maior desafio é superar a abstenção. “Espero que a abstenção diminua, temos que participar para podermos reivindicar”, declarou à AFP, ao votar em uma escola na área de Chacao, na capital.

“Sejamos honestos: o PSUV [Partido Socialista Unido da Venezuela, no poder] vai ganhar”, reconheceu Henrique Caprilles, duas vezes segundo lugar em eleições presidenciais contra o herdeiro de Hugo Chávez. “Independentemente do resultado, deve haver uma reorganização e um relançamento de todas as forças democráticas”, afirmou, conclamando os venezuelanos a comparecerem às urnas.

Os críticos do presidente veem na votação uma chance de se reforçar desde agora, com vistas às eleições presidenciais previstas para 2024. Os resultados, portanto, serão um primeiro termômetro para os anos à frente.

Boicote de Guaidó

Muitos eleitores estão cansados das terríveis condições de vida no país, mas dizem também não confiar nos líderes da oposição, a começar por Juán Guaidó, autoproclamado presidente e reconhecido como tal por cerca de 50 países.

Na sexta-feira (19), ele denunciou que “não há condições para uma eleição livre e justa na Venezuela”, mas afirmou respeitar os partidos da oposição que decidiram participar do processo de escolha de governadores e prefeitos deste domingo, que ele próprio decidiu continuar a boicotar.

“Não existe um jogo limpo. Esperamos que as missões de observação que estão na Venezuela apresentem um relatório” que esclareça todos os abusos”, disse, em um vídeo divulgado nas redes sociais.

Os primeiros resultados do pleito são aguardados para a madrugada desta segunda-feira (22).

fonte: AFP