Concurso da Seduc foi o mais patético da história do Amazonas

Malotes de provas do concurso da Seduc estavam violados e Ministério Público de Contas do Amazonas pediu a anulação do certame © Divulgação

Atraso na chegada dos cadernos de provas nos locais de exame, troca de malotes entre municípios, transporte feitos por mototaxistas e malas com lacres violados.A lista é uma parte que compõe a completa trapalhada que foi a realização do concurso público promovido pelo Governo do Amazonas, por meio do Instituto Acesso, com o intuito de oferecer 8.175 vagas para a Secretaria de Educação do Estado e Qualidade de Ensino (Seduc).

O contrato para realização do certame, que contou com 238 mil inscritos, custou R$ 998.903,25 mil aos cofres públicos, conforme divulgado pelo Portal da Transparência.

Após denúncias, o Ministério Público de Contas do Amazonas (MPC-AM) requereu na última terça-feira (10) a suspensão integral do concurso, realizado no último domingo (8), tendo em vista que, apesar de todas as irregularidades constatadas, a empresa responsável divulgou nota dizendo haver necessidade de reaplicar provas somente para o cargo de professor de ensino regular, ciclo de 20 horas, em Manaus.

Instituto Acesso 

Além das irregularidades mencionadas, a banca realizou apenas seis concursos ao longo de 21 anos de existência, não possuindo, em tese, a qualificação técnica necessária para ter sido contratada com dispensa de licitação pela Seduc.

Segundo a procuradora do MPC-AM, Elissandra Monteiro Freire Alvares, na quarta-feira (11), após o pedido de anulação do certame, o titular da Seduc, Lourenço Braga, foi notificado. “Ninguém da Secretaria de Educação nos procurou para falar a respeito”, disse.

Recomendação

O Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) fez coro ao MPC e pediu a anulação integral do concurso, através de uma recomendação à Seduc na última sexta-feira (13). O secretário e o Instituto Acesso têm até cinco dias para se manifestarem. Caso isso não aconteça, o MPAM pode pedir a anulação integral do certame junto ao Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM).

Por meio de nota, a Seduc informou que o secretário Lourenço Braga tomou a decisão de cancelar apenas a prova para o cargo de professor regular – ciclo 20h. E que a decisão ocorreu ao identificar um erro humano no manuseio de um dos malotes com as provas, em uma sala do Centro Educacional de Tempo Integral (Ceti) Elisa Bessa, localizado no Jorge Teixeira, Zona Leste.

Ainda segundo a nota, uma ocorrência sobre o caso foi registrada no 30º Distrito Integrado de Polícia (DIP), e, agora, a Seduc aguarda os desdobramentos da investigação da Polícia Civil do Amazonas. A pasta também já definiu o dia 22 de julho como nova data para a aplicação das provas para o cargo de professor de ensino regular – ciclo de 20 horas Manaus.

Provas com erros

A professora Cristiane Balieiro, de 36 anos, leciona em cursinhos há 12 anos e é uma das lideranças do movimento de concurseiros que foi criado ainda no último domingo, no Facebook para protestar conta a organização do concurso. A professora dencunciou o despreparo da empresa organizadora do certame. De acordo com ela foram encontrados erros ortográficos, como “anterealidade”, em algumas questões de prova.

“Esse movimento dos concurseiros começou no domingo mesmo. Movimento que envolve professores e merendeiros também. Percebi que havia muito despreparo no manuseio e na elaboração das provas. Questão mal elaborada é uma coisa, mas foram encontradas várias questões com erros ortográficos. Mas o que a gente tem questionado mesmo é o depois. Teve candidato que entrou na sala sem apresentar o registro de identidade, ou seja, várias pessoas não se identificaram”, disse Cristiane Balieiro, Professora.

O grupo formalizou a denúncia junto ao MPE-AM na última terça-feira (11). Cleberthon Barroso Bindá, 37, que prestou concurso para a vaga de professor de química na unidade de saúde da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), disse que ficou decepcionado com as irregularidades no concurso para o qual estuda há mais de um ano. “Me senti enganado, pois há um ano estou estudando para a prova que não dava condições mínimas para que eu conseguisse respondê-la. Fiquei vários dias sem dormir após a prova. Como cidadão me sinto humilhado e lesado pelo Estado”, afirma.

Reação na Assembleia

A situação foi debatida na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam). O deputado Luiz Castro (Rede) disse que todo o concurso está sob suspeita. “Estou preocupado e indignado com a forma atabalhoada como foi realizado esse concurso. Há que considerar as graves irregularidades, como trocas de provas entre municípios e candidatos, lacres fraudados, questões incompletas, falhas de aplicação e fiscalização, atrasos na realização em vários locais e o fato de que a prova comprovadamente vazada continha diversas questões constantes nas demais provas, o que coloca sob suspeita todo o concurso. Além disso, a instituição contratada, com dispensa de licitação, não reúne a credibilidade e expertise necessárias para a realização de um concurso público dessa natureza”, defendeu Castro.

Fonte: Em Tempo