Brasil também quer vistos dos países que exigem o nosso

Se para alguns trata-se de igualdade, para os empresários do turismo pode representar prejuízos, o que é contestado pelo governo

Nem sempre a política da reciprocidade é a solução mais democrática, podendo variar de acordo com os interesses ou dinâmicas de determinados setores. Para muitos, nada mais justo do que exigir a mesma cobrança que fazem de nós: é a chamada paridade.

Dentro dessa lógica, o Governo Federal determinou ao Ministério das Relações Exteriores que comunique aos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão que voltará a cobrar deles, da mesma forma que exigem do cidadão brasileiro para entrar em seus territórios. Em relação aos demais países que não fazem essas exigências aos brasileiros, o acesso ao visitante estrangeiro continuará livre, mediante a apresentação de passaporte.

A justificativa do Brasil é de desde 2019 (antes da Covid) quando as cobranças dos estrangeiros foi suspensa, pouca alteração foi registrada na entrada de turistas desses quatro países. Para chegar a esse cálculo superficial, a chancelaria brasileira comparou 2019 com o ano anterior quando ainda havia o pedido do visto pelo Brasil. Entre os norte-americanos essa oscilação foi de apenas 12% neste período e entre os japoneses, houve até redução em 4%.
Esses dados são contestados pelo presidente da Associação, que apesar do nome “Rio, vamos vencer”, reúne empresários de todo o Brasil.

“Há anos estamos estagnados no número de turistas internacionais que visitam nosso país, aproximadamente seis milhões, e ainda sofremos com a falta de políticas públicas eficientes, com a inexistência de uma companhia aérea forte, de bandeira nacional, e com a escassez de verba para promoção do destino, sem mencionar os efeitos da pandemia. Dificultar o acesso de estrangeiros é uma atitude retrógrada e maléfica para o Brasil”, enfatizou Marcelo Conde.

Pressão do setor de Turismo

O trade se mobiliza para convencer o Governo Federal que esses dados não são fidedignos para que mude de ideia já que a medida sequer tem prazo estipulado para voltar a vigorar.

“A volta dessa exigência vai impactar de forma abrupta toda a indústria de eventos, feiras e congressos internacionais, dificultando ainda mais a escolha do Brasil como destino”, frisou Fatima Facuri, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos.

Reciprocidade

Defendida por alguns segmentos da sociedade como uma questão de honra, a intensão de voltar com o “olho por olho, dente por dente”, deveria ser relativizada, de acordo com a indústria do turismo. Para o CEO do Parque Bondinho Pão de Açúcar, Sandro Fernandes, o governo deveria discutir e colocar energia para que esses países abolissem a exigência de visto de brasileiros e não pagar com a mesma moeda.

“Qualquer país que tem o turismo como fonte de desenvolvimento e de geração de renda, tem que facilitar a entrada de visitantes. A volta da exigência de visto é inadmissível, ainda mais neste momento que o País se abre para o mundo com o lançamento da nova Marca Brasil, convidando todos a virem nos visitar”, destacou Sandro Fernandes.

Alfredo Lopes, presidente da HotéisRIO, destaca que a lei da reciprocidade na exigência de vistos é uma medida utilizada por destinos que sofrem com problemas de imigração, o que não é o caso do Brasil.

“É preciso que o governo entenda que nós precisamos desses turistas estrangeiros, principalmente os dos Estados Unidos e Canadá, para diminuir o déficit na balança comercial do turismo e alavancar a economia. Dificultar esse acesso é um contrassenso”, opinou Alfredo Lopes.

Bom momento do Turismo

Esse verão marcou o retorno do potencial do turismo brasileiro, em recuperação do impacto da pandemia de Covid-19. Os números são animadores. Somente em janeiro, portanto antes do boom do Carnaval, o país bateu recorde, registrando a marca de 868.587 estrangeiros.

“Em janeiro de 2023, tivemos um recorde de estrangeiros em nosso País, superando o mesmo período de 2019. Sem dúvida a isenção de vistos, sobretudo para EUA e Canadá, influíram nesse resultado. Falta uma política nacional para o turismo e que reconheça a importância e o enorme potencial do setor para o crescimento da economia”, acredita Marcelo Conde.