Boeing 747 voa pela última vez, marcando fim de uma era

O último Boeing 747-8 deixa a fábrica no estado de Washington, nos EUA, antes de ser entregue à Atlas Air

Depois de 53 anos atravessando continentes pelo ar, o glamouroso Boeing 747 se despediu dos céus nesta terça-feira, 31. O último modelo comercial sobrevivente da categoria foi, após dois anos do anúncio da aposentadoria, entregue à empresa aérea Atlas Air.

O Boeing 747, popularmente conhecido como “Jumbo” por conta do seu tamanho, decolou pela primeira vez em Nova York em 22 de janeiro de 1970 – com atraso, devido a uma falha no motor. A “Rainha do Céus” foi a primeira aeronave a conseguir transportar até 500 passageiros, dependendo da configuração, e por isso se tornou um mito da aviação.

O grande apogeu do Jumbo começou no final dos anos 80, com o 747-400, que apresentava novos motores e materiais mais leves para facilitar trajetos que passavam por cima do Pacífico. Desde então, a aeronave virou símbolo de glamour nos ares.

A ideia

O fundador da empresa de aviação Pan Am, Juan Trippe, estava tentando cortar os custos das viagens e teve a brilhante ideia de aumentar o número de assentos nas aeronaves. Durante uma viagem de pesca, ele desafiou o presidente da Boeing, William Allen, a criar um modelo que superasse o 707, maior até então. Allen escolheu o engenheiro Joe Sutter para criar o 747, que quase dobrou a capacidade de passageiros.

Logo no início, o 747 chamou a atenção pelo seu tamanho. “No chão é maravilhoso, imponente”, disse Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, que pilotou um 747 apelidado de “Ed Force One” durante a turnê da banda britânica em 2016. “E no ar é surpreendentemente ágil. Um avião enorme, mas você pode realmente jogá-lo para qualquer lado se for necessário.”

Ainda pelas suas dimensões, Jumbo revolucionou o mercado das viagens aéreas, que tornaram-se mais acessíveis. “Esse foi o avião que introduziu o voo para a classe média dos Estados Unidos”, disse Ben Smith, CEO da Air France-KLM. “Antes do 747, uma família média não podia voar dos Estados Unidos à Europa de forma acessível.”

Ascensão e queda

Mesmo com o sucesso, o 747 teve um início complicado. As aeronaves apresentavam muitos defeitos mecânicos e os custos de desenvolvimento, que chegaram a US$ 1 bilhão, quase causaram a falência da Boeing.

Além disso, com avanços tecnológicos, jatos bimotores que replicavam o alcance e a capacidade do Jumbo, mas de custo mais baixo, começaram a chegar ao mercado.

“Em termos de tecnologia, capacidade e economia, o 777X infelizmente faz o 747 parecer obsoleto”, disse o diretor administrativo da AeroDynamic Advisory, Richard Aboulafia.

Com a entrega do último modelo, a era do Boeing 747 chegou ao fim, mas deixou a sua marca na história da aviação. “Foi uma das maravilhas da era industrial moderna”, disse Aboulafia, “mas esta não é uma era de maravilhas, é uma era de economia.”