Ademar Gevaerd – Um Cidadão do Universo!

Ademar Gevaerd

MANAUS — Um acidente doméstico resultou, infelizmente, no desencarne recente de um dos maiores ufólogos do mundo, o jornalista paranaense Ademar José Gevaerd, aos 60 anos. Não quero aqui me prender a ilações acerca do acidente fatal, mas prestar uma homenagem sincera, por dever de consciência e coração, ao grande Geva, como carinhosamente era chamado por seus familiares e amigos, de um modo geral, e por todos os que interagiam com ele nos diversos grupos que mantinha nas redes sociais, sobretudo no Whatsapp.

Destaco Geva da mesma forma como admiro Carl Sagan, astrônomo, astrobiólogo, astrofísico e ativista norte-americano autor da maravilhosa série televisiva Cosmos, com que surpreendeu a opinião pública internacional no ano de 1980, estabelecendo uma incrível interação ciência/povo na tentativa de explicar o Universo em uma linguagem popular, sem burocracia científica.

Cinco anos depois, precisamente em 1985, o jovem maringaense Ademar Gevaerd, que então lecionava química, largou as salas de aula para dedicar-se exclusivamente à Ufologia, sua paixão maior. Naquele ano, na onda da empolgação com a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), aos 21 anos de idade, fundou a festejada Revista UFO, a mais conceituada publicação ufológica do mundo, campeã em longevidade e tiragem.

Recordo a minha euforia ao saber do surgimento do CBPDV e da Revista UFO em uma época onde a Internet não passava de um sonho e em que o nosso acesso às informações pertinentes à Ufologia e seus eventos, aparições de discos voadores e contatos com seres de outros orbes, abduções, etc, era extremamente difícil num estado isolado da comunicação com as demais regiões do país e do mundo, como o Amazonas.

Lembro de minha tensão na expectativa de correr às bancas de revistas e poder comprar um exemplar da UFO. Cheguei a fazer um rígido esquema com o amigo Raimundo, proprietário de uma banca de revistas na esquina da Avenida Eduardo Ribeiro com a Rua Saldanha Marinho, para poder obter os exemplares. Graças ao Raimundo, eu conseguia exemplares da UFO e também da revista Planeta, lançada no início dos anos 70 e que agitava a Terra com ousadas publicações sobre ciência, religião, ocultismo e ufologia.

A cada número da UFO, notava o entusiasmo e a disciplina militar com que Ademar Gevaerd se dedicava e se aprofundava na abordagem de temas desafiadores no que concerne aos polêmicos discos voadores, ou OVNIS. Suas reportagens e artigos acerca do fenômeno aguçaram-me a curiosidade em torno de assuntos que até hoje trato com muita seriedade e que desmistificam dogmas e tabus bíblicos porque que me instigam questões como as estranhas modificações ocorridas em nosso DNA. Quem mexeu em nosso DNA e o reduziu a duas hélices em vez de doze, que seria o correto? Quem cometeu esse crime, e com que interesses, contra a humanidade da Terra, atrofiando as nossas glândulas pineal e pituitária, bem como o hipotálamo, responsável pelas funções dos nossos sistemas endócrino e nervoso ? Terá sido obra do famigerado Javé? Ou foi a diabólica Santa Inquisição ? Ou foram os concílios de Niceia, Trento e Constantinopla ? Terá sido algum delinquente draconiano?

Operação Prato

Foram as matérias e os artigos do querido Geva que me ajudaram a buscar, no fenômeno extraterrestre, explicações racionais para essas polêmicas e outras relacionadas a vida humana na Terra e ao esquema de manipulações que, com o ardiloso jogo das religiões, até hoje obstaculizam a sintonia entre nós, humanos, e o Universo. Sem medo de encarar desafios de qualquer natureza, Geva produziu farta obra jornalística que o colocam entre os gigantes da Ufologia, seja ela científica ou mística. Seu vasto trabalho abrange tudo por ser rico e profundo, como se pôde constatar quando da cobertura da Operação Prato.

Como se sabe, a Operação Prato é uma das coisas mais controversas da Ufologia nacional pela forma como foi deflagrada e conduzida pela Ditadura Militar que infelicitou o Brasil entre os anos de chumbo de 1964 e 1984. Sob o comando do falecido coronel Uyrangê Holanda, a Operação escamoteou fatos referentes a ataques de “luzinhas assassinas” contra populações de cidades dos estados do Maranhão e Pará em 1977.

Desarquivamento

Em sensacional entrevista com Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda Lima, nos anos 90, Gevaerd, na companhia de outro brilhante ufólogo, Marco Antônio Petit, arrancou do coronel declarações contundentes sobre o que a Ditadura escondia com relação aos ataques das “bolas de fogo” principalmente na cidade paraense de Colares, com a participação do governo dos Estados Unidos. Publicada, a entrevista colocou luz no fenômeno extraterrestre em nosso país, especialmente na Amazônia.

Inquieto, Gevaerd se convenceu de que a Operação Prato não fora, na verdade encerrada no final de 1977 e que muito a seu respeito prossegue trancado a sete chaves pelo governo estadunidense, que se apropriou de quase todo o acervo da Operação sem resistência da Aeronáutica brasileira. Por isso, Geva atirou-se com força no movimento nacional e internacional em favor do desarquivamento geral envolvendo a Operação e outras situações focando o fenômeno ufológico.

O desarquivamento, vale ressaltar, fez parte de um elenco de questões que permearam a realização de uma histórica sessão legislativa no Congresso Nacional, em junho deste ano, que teve em Ademar Gevaerd uma de suas principais estrelas, em comemoração dos 75 anos do Dia Mundial da Ufologia. No evento, Geva elogiou a liberação de mais de 20 mil páginas de documentos guardados no Arquivo Nacional, em Brasília, mas cobrou o desarquivamento de mais documentos reveladores.

Esse era o nosso amado Geva, incansável guerreiro a serviço da causa da vida fora da Terra e da realidade cósmica das nossas origens. Um Guerreiro da Luz. Um Cidadão do Universo que tive a alegria de abraçar pessoalmente em maio deste ano por ocasião de palestra sua, em Manaus. Ele nos encantou com bons esclarecimentos sobre a liberação de 1.574 páginas de documentos secretos do Pentágono. Foi a oitava vez que Geva brindou o Amazonas com palestras a respeito dos objetos voadores não identificados, a convite da escritora e também ufóloga Umaia Ismail. Foi a última aparição de Geva no cenário ufológico amazônico.

Agroglifos e Voynich

Graças aos escritos de Geva na revista UFO, abri meus olhos para o Infinito e para a busca da compreensão acerca da nossa situação na Terra diante das estrelas. O que, de fato, somos? De onde viemos? Para onde iremos um dia? A obra de Geva, se não nos responde a contento, nos brinda com imensas razões para rompermos o cipoal de preconceitos armado para nos brecar o acesso ao entendimento. A mim, sua obra não só ofereceu horizontes melhores de compreensão do Sistema Solar, como entregou-me, dentre outras coisas, embora ele não fosse um ocultista, determinadas chaves para bater cabeça com os enigmas dos agroglifos ou das plantas encontradas no Manuscrito de Voynich, ou, ainda, para assimilar os arranjos alquímicos constantes do Segredo Real de Salomão. Na estrada de questões ufológicas que Geva nos legou também transitam outras questões que seus escritos instigaram. Umas coisas puxaram outras, ainda bem.

Quem sabe, agora, sem o véu material que condicionava sua existência na Terra, nosso velho Geva possa nos proporcionar muito mais conhecimentos cósmicos diretamente do plano extrafísico. Apaixonado como era pela interação da humanidade terrena com as estrelas, acreditamos que fará isso, sim. Que não demore. E, sendo, assim, até breve Geva.

👉JUSCELINO TAKETOMI