O prefeito de Coari, Adail Pinheiro Filho, protocolizou nesta terça-feira, dia 26, uma representação no Ministério Público do Amazonas (MP-AM) contra o promotor da cidade, Weslei Machado, e outras pessoas.
Adail Filho acusa diretamente o promotor de integrar uma organização criminosa, composta ainda de quatro vereadores e um funcionário do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM), que estaria tentando derrubá-lo do poder.
Na denúncia que faz ao MP-AM, o prefeito acusa ser vítima de perseguição política e de tentativa de extorsão como parte de um golpe para tirá-lo da prefeitura.
“Apresentamos uma série de provas, de áudios, de vídeos, de documentos, que comprovam a existência dessa organização criminosa e a forma como ela funciona”, disse Adail Filho.
Segundo a denúncia que apresenta ao Ministério Público, o prefeito afirma que desde janeiro deste ano começou a perceber que cresciam as ações de perseguição por parte do promotor da cidade.
“É de conhecimento público que venho sendo alvo do único promotor da cidade, Weslei Machado, recém-chegado, que no início imaginei que queria apenas mostrar trabalho. Mas, depois, percebi que suas ações eram perseguições pessoais e políticas e, cada vez menos, jurídicas”.
Adail Filho citou que o promotor, na última ação que moveu, de improbidade administrativa, o teria chamado de “playboyzinho”.
Tentativa de extorsão
Joabe Rocha, adversário político de Adail Filho, foi quem teria denunciado o plano da organização criminosa depois que foi convidado para ajudar a derrubar o prefeito por Raione Queiroz, que seria o funcionário do TCE, figura central nas articulações que aparecem nas conversas gravadas que são anexadas na denúncia. Como teria recusado participar do grupo, Joabe resolveu colaborar com seu opositor.
E fez isso fornecendo provas do plano contra Adail Filho, principalmente áudios de conversas entre membros do esquema. Entre essas provas estaria tentativa de extorquir R$ 1,5 milhão do prefeito de Coari em nome do promotor de Justiça, segundo Joabe.
De acordo com o prefeito, esse dinheiro seria para o representante do MP-AM em Coari parar com as ações e arquivar aquelas que estivessem em andamento.
“Resolvemos apresentar isso na Justiça, ao MP, para os órgãos de controle, para a imprensa, no intuito de tornar isso público e a sociedade possa saber o que está acontecendo em Coari”, afirmou o prefeito.
Adail Filho chegou a descrever como funcionaria o esquema. O promotor Machado faria ações de improbidade administrativa para desgastar a imagem do prefeito e de sua vice, além do presidente da Câmara Municipal, até que fossem afastados do cargo.
Em contrapartida, aqueles que concordassem em colaborar com a organização, dando testemunhos contra o prefeito, ganhariam cargos na nova prefeitura, em que assumiria o comando o vereador Samuel Castro (PSL).
Nota distribuída pelo prefeito
ADAIL FILHO DENUNCIA GOLPE E EXTORSÃO EM COARI
RESUMO:
Após denúncias seguidas promovidas pelo promotor Weslei Machado pedindo a saída do prefeito de Coari, sua vice e do presidente da câmara, chegou ao conhecimento do prefeito Adail Filho que estas ações faziam parte de um esquema que tinha por objetivo desgastar sua imagem perante a opinião pública para facilitar um golpe político e retirá-lo da função. Sem nenhum crime concreto, elas se fundamentavam sempre em crime de improbidade administrativa.
Joabe Rocha, conhecido opositor de Adail, foi quem procurou o prefeito através de seu advogado, para revelar o esquema. Ele foi procurado por Raione Queiroz para se unir a um grupo de pessoas que apresentariam denúncias falsas ao Ministério Público Estadual e Federal, assim como para a Polícia Federal, com o objetivo de dar início a uma operação policial para derrubar o prefeito, sua vice e o presidente da Câmara. As falsas testemunhas também sustentariam a versão para a imprensa.
Joabe apresentou áudios das conversas onde Raione se vangloria de ter influência sobre os investigadores, vereadores, além de contar com a parceria do promotor.
“Do jeito que eu ‘tô’ ajudando a derrubar prefeito, vice-prefeito, presidente da câmara e vereadores, eu derrubo vocês também”, diz Raione durante uma conversa com Samuel Castro, vereador que assumiria a prefeitura caso o grupo conseguisse seu objetivo. A ameaça foi feita aparentemente para inibir alguma traição por parte do vereador.
Samuel confirma sua lealdade a Raione e diz que os compromissos firmados seriam respeitados.
“Meu compromisso é com vocês… Quem tem o compromisso de me ajudar a administrar Coari”.
Os áudios apontam com detalhes o esquema. Ao saber que Joabe não faria parte e que entregaria os áudios, Raione o procura para fazer uma oferta em nome do promotor. As ações não mais aconteceriam se o prefeito pagasse R$ 500 mil reais. Diante da tentativa de extorsão, o prefeito Adail Filho de imediato realizou a denúncia ao Conselho Nacional do Ministério Público e Procuradoria Geral do Ministério Público no Amazonas. A denúncia ocorreu no dia 16 de maio. No dia 21 a quadrilha entra com uma outra ação tentando inverter o caso e compartilham com a imprensa para tentar passar a impressão de que foram os primeiros.
PERSONAGENS:
WESLEI MACHADO: promotor em estado probatório, empossado em junho de 2017 entre os aprovados no concurso realizado em 2015/2016 do MP/AM. Atuava como professor de cursinho on-line em Brasília. É suspeito de participar de um esquema de extorsão em Coari e é apontado em áudio como braço jurídico da quadrilha que atua para tomar a prefeitura.
FLÁVIO BRITTO: Ex-advogado de Raimundo Magalhães e que atualmente ocupa o cargo de Desembargador Eleitoral em Brasília. É o braço jurídico da quadrilha responsável por orientar como devem ser os depoimentos falsos.
RAIONE QUEIROZ: estagiário do Tribunal de Contas do Amazonas ligado ao ex-prefeito de Coari Raimundo Magalhães e personagem conhecido por aparecer em fotos se acorrentando. É quem alimenta o promotor com informações para novas denúncias e autor do fake Raimundo Neto, criado em novembro de 2017. Flagrado em áudio, conta sobre a participação de vereadores, do promotor e outros em esquema para enganar a justiça com depoimentos falsos e tirar o prefeito Adail Filho da prefeitura. Se divide entre o braço politico e jurídico do esquema.
SAMUEL CASTRO: vereador no município de Coari, eleito com 714 votos. Seria o escolhido da quadrilha para ocupar o cargo de prefeito com a derrubada do atual, sua vice e do presidente da Câmara. Compõe o lado político do esquema.
ADEVA CORDOVIL, ADEMOQUE FILHO e EWERTON MEDEIROS: vereadores de oposição citados por Samuel Castro no áudio como participantes do esquema. Em 2018 chegaram a ser afastados da Câmara após a denúncia de que estariam oferecendo vantagens indevidas a funcionários de Coari para obter provas de condutas ilegais do prefeito durante o mandato. Deva já foi preso por estelionato e apropriação indébita. Fazem parte do braço politico do esquema.
JOABE ROCHA: Conhecido opositor do grupo politico de Adail que não concorda em participar do esquema como testemunha falsa e decide revelar o caso e apresentar os áudios que provam a tentativa de golpe e o modus operandi da quadrilha.
TRECHOS:
RAIONE PARA JOABE
Por que que o samuel já tá me autorizando a negociar, cara?
Porque cai um, dois, três, cai uma pancada de vereadores po… cai uma pancada de vereadores.
Por isso que ele tá me garantindo.
Dr. Flávio britto fez a peça… tou, tou, tou, tou
O que é que a gente “tá” fazendo agora? Por que que eu pensei em ti?
Já tenho depoimento já… do Adail. Já dei meu depoimento e vou dá um outro “pra” confirmar, entendeu?!
“Pra” afastar prefeito, vice-prefeito, presidente da câmara, a gente já tem porra. A gente já tem, a gente já tem já.
VEREADOR SAMUEL
Que nem eu falei para ti naquele dia. Depois de Deus, depois do promotor (Weslei Machado) eu te agradeço a você.”
RAIONE FALANDO AO VER. SAMUEL
“Se ele chegar a fuleirar contigo, ele está fuleirando comigo. Ele sabe das consequências, entendeu? Ele sabe do que eu sou capaz. Tu sabe disso Samuel. Tu, o Adeva sabem disso. Porque se vocês fulerarem comigo, do jeito que eu tô ajudando a derrubar prefeito, vice-prefeito, presidente da câmara e vereadores, eu derrubo vocês também, pô. Eu tenho carta na manga para isso. Tu sabe disso”.
SAMUEL PARA RAIONE
“Meu compromisso é com vocês e com político… entendeu? Que tem o compromisso de me ajudar A ADMINISTRAR COARI”
JOABE
Eu fico nervoso com essa situação.
RAIONE
Agora em quê que eu poderia te ajudar? Nós tratamos daquele teu reajuste lá. Se você me fizer, na minha sugestão, tu ficaria com a secretaria de esporte.
RAIONE
Eu sei que é perseguição, mas como eu sei que vai dar certo, eu tô sem medo já. Quando o promotor falou pra mim, ó: “Nós já fizemos a nossa parte. A outra parte é a parte política. É a parte para prender o Adail. Se vocês conseguirem isso, ótimo. MAS A PARTE DELE ELE JÁ FEZ.
“Totalmente improcedente”, afirma promotor
O promotor Weslei Machado, por meio da assessoria de comunicação do MP-AM, disse que a denúncia de Adail Filho é uma tentativa de tirar a credibilidade da atuação do Ministério Público depois que intensificou a sua atuação a partir de janeiro deste ano.
“A atual gestão, para tentar evitar eventual afastamento do prefeito ou algumas medidas judiciais que podem ser tomadas, tenta tirar a credibilidade do Ministério Público”.
De acordo com Machado, a “alegação de perseguição é totalmente improcedente. Em todos os casos em que houve minha atuação é porque eu fui obrigado, eu sou obrigado pela lei a agir diante de atos ilícitos”.
Machado afirmou ainda que foi procurado por um emissário do prefeito oferecendo propina de R$ 1 milhão para que parasse de atuar. “Imediatamente encaminhei essa pessoa para a Procuradoria-Geral de Justiça, já que o fato narrado envolvia a figura do prefeito”, disse.
Acrescenta o promotor que as ações que moveu neste ano não decorreram de nenhuma notícia levada por qualquer uma dessas duas pessoas [Joabe e Raione] mencionadas pelo prefeito de Coari.
O promotor disse ainda que várias provas apresentadas ao MP-AM estão sendo investigadas e que “possivelmente nas próximas semanas nós teremos desdobramentos para evitar a consumação desses graves danos”. BNC