Pesquisadora brasileira cria fármaco que pode reverter lesão medular

Pesquisadora da UFRJ desenvolve medicamento inovador que usa proteína da placenta para regenerar a medula espinhal e devolver mobilidade a pacientes.

RIO — Uma pesquisa de 25 anos conduzida pela professora Tatiana Coelho de Sampaio, líder do Laboratório de Biologia da Matriz Extracelular na UFRJ, demonstrou que a proteína laminina extraída da placenta humana é capaz de influenciar o comportamento celular e a organização do tecido em processos de regeneração do sistema nervoso.

Durante os testes, o tratamento com esse medicamento novo, chamado polilaminina, permitiu que pacientes com lesão na medula recuperassem, total ou parcialmente, a capacidade de se mover. Os dados foram obtidos em experimentos envolvendo dez pacientes, entre eles um jovem de 31 anos vítima de acidente de trânsito, uma mulher de 27 anos que sofreu queda e um homem de 33 anos com ferimento por arma de fogo.

O laboratório Cristália, em parceria com a professora Tatiana, aguarda agora a autorização da Anvisa para iniciar os estudos clínicos em maior escala (fase 1), que incluirão mais cinco pacientes — etapa essencial para que o tratamento esteja disponível nos hospitais do país.

As lesões medulares interrompem a comunicação entre cérebro e corpo. A polilaminina atua regenerando as células da medula espinhal, potencialmente restaurando a mobilidade. Os resultados mais expressivos ocorrem quando o medicamento é aplicado até 24 horas após o trauma, embora também haja benefícios em casos de lesões mais antigas. O protocolo prevê apenas uma aplicação da substância, seguida de fisioterapia para a reabilitação.

Essa proteína é naturalmente produzida pelo corpo durante o desenvolvimento do sistema nervoso e, segundo a equipe da UFRJ, pode ser obtida de forma segura e acessível da placenta, representando uma alternativa mais previsível e menos arriscada do que o uso de células-tronco, cuja atuação pós-aplicação é considerada menos previsível.