Invasão de sítios arqueológicos Wajuru ameça patrimônio em RO

A destruição dos sítios arqueológicos, onde foram encontrados potes cerâmicos com ossadas e desenhos ancestrais, afeta profundamente o povo Wajuru, tanto cultural quanto psicologicamente.

RONDÔNIA — No território tradicional do povo indígena Wajuru, em Rondônia, pousadas, piscinas e estruturas voltadas ao turismo de pesca estão sendo construídas sobre sítios arqueológicos e locais sagrados. Apesar de o território, também ocupado por comunidades quilombolas, estar em processo de demarcação há mais de 20 anos, a falta de proteção efetiva permite o avanço de construções irregulares. No distrito de Rolim de Moura do Guaporé, em Alta Floresta d’Oeste, foram identificados pelo menos três sítios arqueológicos, mas a ausência de fiscalização tem agravado a destruição do patrimônio cultural e arqueológico do povo Wajuru.

A Defensoria Pública da União (DPU) interveio em 11 de junho, enviando um ofício ao Iphan em Rondônia para denunciar a construção de estruturas turísticas em áreas arqueológicas, solicitando ação urgente. Segundo a DPU, o Iphan não tem cumprido sua obrigação de proteger esses sítios, o que facilita a continuidade das invasões. Najela Wajuru, liderança indígena, relata que as construções, incluindo barcos flutuantes às margens dos rios, seguem em ritmo acelerado, impulsionadas por empresários, fazendeiros e setores do turismo, muitas vezes com apoio de autoridades locais, como a prefeitura de Alta Floresta e o governo estadual.

A destruição dos sítios arqueológicos, onde foram encontrados potes cerâmicos com ossadas e desenhos ancestrais, afeta profundamente o povo Wajuru, tanto cultural quanto psicologicamente. Najela destaca que a demarcação do território é essencial para a identidade e sobrevivência da comunidade, mas a demora no processo fundiário, que se arrasta desde 2002, é usada como justificativa para invasões e violações de direitos, como acesso à saúde e educação. Além disso, a presença de um posto da Polícia Ambiental e da sede do Idaron construídos em áreas sagradas, como um cemitério indígena, intensifica a indignação da comunidade.

O turismo predatório na região, incentivado pelo governo de Rondônia, agrava a situação com a multiplicação de casas de veraneio, barcos-hotéis e despejo de resíduos nos rios, que contaminam a água e afetam a saúde da população local. O Ministério Público Federal moveu uma ação em 2020 para acelerar a demarcação, mas os processos seguem estagnados. Enquanto isso, lideranças indígenas, como uma cacique sob proteção policial, enfrentam ameaças, e a comunidade luta contra a exploração sexual, a caça ilegal e a poluição. Najela Wajuru clama por visibilidade e justiça, denunciando a omissão das instituições diante das violações no território Wajuru.