No passado, aviões comerciais eram verdadeiros “bombardeiros” de dejetos humanos. Toda a sujeira gerada pelos passageiros nos toaletes era lançada para fora da cabine em pleno voo, um costume que durou até meados da década 1950. Em seguida, as aeronaves passaram a adotar banheiros químicos, o que, convenhamos, também não é o mais adequado num ambiente fechado.
Os toaletes de aviões como conhecemos hoje, com descarga a vácuo, foram adotados somente a partir de 1982, em jatos comerciais da Boeing. O dispositivo mais avançado foi uma enorme evolução em questões de higiene e conforto para os passageiros, que não precisavam mais se preocupar com maus odores ou até riscos de vazamentos nos banheiros.
Em entrevista ao CNN Business, Marcelo Panagio, gerente de manutenção da companhia aérea LATAM Brasil, explicou que o sistema dos toaletes dos aviões funciona com tubulações hidráulicas controladas por atuadores elétricos, isso quando a aeronave está em solo ou em baixa altitude.
“A partir de uma determinada altitude, este sistema funcionará por diferencial de pressão entre a cabine e a atmosfera, a qual moverá os detritos do vaso, passando por válvulas, até o tanque de armazenamento. O sistema utiliza água potável pressurizada proveniente do tanque de água da aeronave. Em solo, uma bomba de vácuo gera a sucção necessária para a descarga”, contou Panagio.
Banheiro hi-tech
Quando o botão da descarga é acionado, entra em ação uma válvula de sucção que fica aberta por apenas quatro segundos, sugando todo o conteúdo e, inclusive, o mau cheiro. A cada acionamento, é despejado no vaso uma mistura contendo cerca de 300 ml de água e desinfetante biodegradável.
“O sistema possui válvulas que operam durante a sucção dos dejetos, vedando o sistema e eliminando retornos. A pressão negativa durante a sucção é elevada, evitando qualquer detrito nas linhas. Da mesma forma, os tanques possuem um sistema separador em sua entrada”, relatou o gerente de manutenção.
A quantidade de detritos nos tanques de armazenamento e o estado das válvulas aparecem num mostrador no painel da tripulação de cabine, localizado na galley diantera (logo atrás da cabine de comando dos pilotos). Ou seja, a tarefa de monitorar a situação dos toaletes é dos comissários de bordo. Em caso de falha, os tripulantes podem travar o sistema para impedir vazamentos.
Porém, no caso de uma improvável pane total no sistema, impactando os passageiros pela impossibilidade de utilização dos toaletes, o avião pode ser obrigado a fazer um pouso técnico, segundo Panagio. Ele ainda acrescentou que as aeronaves comerciais atuais não possuem dispositivos para dispensar os detritos em voo.
E se um passageiro “interditar” o banheiro? “Em uma situação como esta a tripulação realizará o isolamento e bloqueio do toalete, assim como o reporte da situação para que seja atendido pelas equipes de solo, na próxima parada da aeronave”, explicou Panagio.
Turbulência no toalete
Imagine a seguinte situação: você acabou de sentar no vaso sanitário do toalete e logo em seguida o avião se depara com uma zona de turbulência. O que fazer?
Em casos assim, o especialista recomenda que os passageiros retornem ao seu assento imediatamente após o aviso de turbulência, pois não há cintos de segurança nos toaletes. “Por toda a aeronave existem avisos sonoros e luzes indicativas de retorno ao assento e da necessidade de afivelar os cintos de segurança, inclusive dentro dos toaletes, aos quais contam com os alto-falantes e sinais luminosos.”
Esvaziando o taque
Segundo o especialista da LATAM, um jato Airbus A320, como os operados pela LATAM, possui um tanque que comporta até 170 litros de dejetos. É o suficiente para suprir as necessidades de cerca de 170 passageiros, em voos de curta e média distância. Já um Boeing 777, com capacidade para mais de 300 ocupantes e autonomia transoceânica, conta com três tanques de 314 litros cada.
Os tanques com toda sujeira dos passageiros são esvaziados entre um voo e outro. O processo é executado por um técnico especializado, que conecta uma mangueira na parte inferior da fuselagem do avião e direciona o conteúdo para dentro dos tanques de caminhões de esgoto dos aeroportos. De acordo com Panagio, os profissionais que lidam com esses dejetos recebem pagamentos adicionais por insalubridade.