Um grupo de 13 venezuelanos que vive em um acampamento ao lado do Terminal Rodoviário de Manaus recusou a proposta de transferência para um abrigo, que seria realizada na terça-feira (11). Os imigrantes pedem quartos individuais no local, além do recebimento de um aluguel social, segundo a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (Sejusc). Na ação, somente um deles aceitou a transferência.
A Secretaria afirma que 126 venezuelanos vivem em um acampamento improvisado nos arredores da rodoviária. Treze deles, a maioria mulheres e crianças, foram previamente selecionados para deixar o local nesta terça e serem conduzidos para um abrigo no bairro Adrianópolis, Zona Centro-Sul da capital.
Entretanto, durante a ação, os imigrantes informaram às equipes da Sejusc e do Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur) que não deixariam a área por conta das condições estruturais do abrigo para onde seriam destinados.
“Todos os abrigos são coletivos. Um quarto com vários beliches. Não tem como ser um quarto para cada um. (…) Não é possível dar dinheiro para eles. Tem a questão do aluguel social sim, mas isso é um outro processo. Não é o Estado que fornece isso”, disse Maria José Ramos, gerente de Imigração e Refúgio da Sejusc.
Apesar de não se encaixar no grupo prioritário de transferência, Wuilmer José Toro Rodriguez, de 25 anos, foi o único que aceitou a transferência. Ele afirma que trabalhava no setor da indústira petroleira na Venezuela e que pretende trazer outros familiares para o Brasil.
“Eu trabalhava na indústria petroleira. Toda minha família está na Venezuela, mas quando eu conseguir um emprego [no Brasil] trago eles para cá. Antes eu procurava ir para um refúgio, mas somente aceitavam mulheres com crianças. Não aceitavam homem solteiro. E aqui, como me deram oportunidade, então eu vou”, afirmou.
Rodriguez viveu durante seis meses nas ruas de Boa Vista, capital de Roraima, e chegou a Manaus há sete dias. Ele conta que no Terminal Rodoviário da capital recebe ajuda de membros da igreja.
“A igreja que vem e traz comida, roupa para as crianças. A igreja somente, mais ninguém. Por isso quero ir para um abrigo. Mas não é obrigado, mas sim para ver se consigo algo melhor. (…) Eu já tenho todos [os documentos], só falta o trabalho para ajudar minha família”, finalizou.
Já para Richard Solorzano, que está há sete meses vivendo nas ruas de Manaus, a ida para o abrigo não representa segurança para ele e para outros imigrantes.
“Há sete meses atrás disseram para nós que não tinha vaga [no abrigo]. Bom, passaram dois meses e não havia vaga. Agora, eles querem que deixemos este espaço. (…) Por que não dão uma garantia para nós que vamos ficar bem, que não vai nos faltar nada? Por que não nos levam para ver o abrigo e saber em que condições vamos estar? (…) Não queremos ir por que nós não sabemos o que tem nesse abrigo”, comentou.
Parte do grupo é composto por mulheres e crianças — Foto: Rickardo Marques/G1 AM
Solorzano ressalta que, com o recebimento de um aluguel social, o grupo deixaria o entorno da rodoviária.
“Disseram para nós quando vieram buscar algumas pessoas, que essa condição não podia acontecer porque não havia dinheiro. (…) Nós pedimos um aluguel social para nós alugarmos [uma casa]. Eu como pessoa asseguro que se nos dão um aluguel social, em menos de cinco dias, aqui não tem mais nada”, afirmou.
A Sejusc informou que o abrigo para onde os imigrantes seriam levados deve realizar uma nova triagem, para que outro grupo prioritário seja criado.