Varíola do macaco é registrada em mais de dez países europeus

Espanha e Reino Unido têm mais da metade dos infectados. — FOTO: CDC/Reuters

SÃO PAULO — Onze países haviam registrado até a manhã desta sexta-feira (20) casos de varíola do macaco, doença infecciosa que foi detectada inicialmente no começo do mês no Reino Unido. Já é o maior surto da doença que se tem conhecimento fora do continente africano.

Globalmente, já são 84 casos confirmados e outras dezenas de suspeitas. Deste total, 60% estão no Reino Unido e Espanha.

“Esta é a primeira vez que cadeias de transmissão são relatadas na Europa sem ligações epidemiológicas conhecidas com a África Ocidental e Central”, onde a doença é endêmica, afirma em nota o ECDC (Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças).

Veja o número de pessoas com a doença em cada país:

• Espanha: 30
• Reino Unido: 20
• Portugal: 23
• Itália: 3
• Canadá: 2
• Bélgica: 2
• Austrália: 1
• Estados Unidos: 1
• França: 1
• Alemanha: 1
• Suécia: 1

Nenhum caso de gravidade foi reportado até o momento. A OMS (Organização Mundial da Saúde) ressaltou na quinta-feira (19) que o vírus isolado no Reino Unido costuma causar doença mais leve do que o que causa a varíola tradicional.

O vírus da varíola do macaco foi descoberto em 1958, quando animais mantidos para pesquisa apresentaram sintomas de doença semelhante à varíola.

O primeiro caso em humanos foi documentado somente em 1970, na República Democrática do Congo. Acredita-se que os hospedeiros natural do vírus sejam roedores e não os primatas.

Nos Estados Unidos, um surto foi registrado em 2003. Identificou-se que roedores importados da África como animais de estimação transmitiram o vírus para cachorros, que passaram para humanos. Trinta e cinco casos foram confirmados em seis estados.

A UKHSA (Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido) ressalta que “o vírus geralmente não se espalha facilmente entre as pessoas”, motivo pelo qual se mantém baixo o nível de alerta em relação à doença.

Entretanto, a consultora médica chefe da agência, Susan Hopkins, afirmou que se espera um aumento dos casos.

“Antecipamos que mais casos seriam detectados por meio de nossa busca ativa de casos nos serviços do NHS [Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido] e maior vigilância entre os profissionais de saúde. Esperamos que esse aumento continue nos próximos dias e que mais casos sejam identificados na comunidade em geral. Além disso, estamos recebendo relatórios de outros casos identificados em outros países do mundo.”

O CDC (Centros para Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos ressalta que a transmissão entre humanos se dá por meio de contato pessoal prolongado.

A via respiratória, por meio de gotículas, é uma das formas de passar o vírus. Todavia, é necessário um contato pessoal prolongado para que isso aconteça.

Contato com fluídos corporais e diretamente com as lesões na pele também são maneiras de se infectar. A agência britânica também lista o contato com roupas ou lençóis usados por uma pessoa que tenha a varíola do macaco.

O ECDC e a UKHSA chamam atenção para o fato de muitos casos serem entre homens que fazem sexo com homens.

“Uma proporção notável de casos precoces detectados foi em homens gays e bissexuais e, portanto, a UKHSA [Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido] está pedindo a essa comunidade em particular que esteja alerta”, diz o órgão em comunicado.

Segundo o ECDC, “esses também são os primeiros casos relatados em todo o mundo entre HSH [homens que fazem sexo com homens]”.

“O vírus da varíola dos macacos é considerado como tendo transmissibilidade moderada entre humanos. Nesse caso, a transmissão entre parceiros sexuais, devido ao contato íntimo durante o sexo com lesões cutâneas infecciosas, parece ser o modo provável de transmissão entre os HSH”, completa o órgão.

De acordo com a OMS, o período de incubação do vírus varia entre seis e 13 dias, podendo chegar a três semanas. Os sintomas são semelhantes aos da varíola, sendo as bolhas na pele o mais característico, mas também ocorre febre, calafrios, cansaço e dores musculares.

“Os sintomas podem ser leves ou graves, e as lesões podem ser muito pruriginosas ou dolorosas”, complementa a entidade em comunicado. Os pacientes também podem apresentar linfonodos aumentados e maior risco de infecção bacteriana secundária da pele e dos pulmões.