
UCRÂNIA — A guerra na Ucrânia não apenas devastou cidades, mas também fragmentou vidas e laços familiares. Em Mariupol, Olena Matvienko, de 66 anos, viu sua vida desmoronar quando um míssil destruiu seu lar e tirou dela a filha e a neta. Apesar da dor, ela ainda deseja voltar para reconstruir o que restou. Contudo, as recentes declarações de Donald Trump e seu secretário de Defesa, Pete Hegseth, sobre um possível acordo de paz envolvendo a cessão de territórios à Rússia, trouxeram novos temores. “É como cortar uma parte do corpo e fingir que está tudo bem”, disse Olena, refletindo a angústia de milhões de ucranianos forçados ao exílio.
Trump prometeu um fim rápido ao conflito, mas suas palavras soaram como uma sentença para muitos. Ele afirmou que a Ucrânia não entrará na Otan tão cedo e que a Rússia pode manter os territórios ocupados desde 2014, incluindo a Crimeia. Esse cenário divide o país em duas realidades: uma sob o controle de Kiev e outra subjugada por Moscou. Para Anna Murlykina, jornalista que fugiu de Mariupol, a postura dos EUA é um golpe duro. “Sem o exemplo das democracias civilizadas, perdemos nossa bússola moral”, lamentou. A divisão territorial não apenas separa famílias, mas também dilacera identidades.
Nos territórios ocupados, a vida é marcada por ruínas e resignação. Moradores relatam falta de serviços básicos e a imposição de ideologias russas nas escolas. Uma mulher de Berdiansk, que pediu anonimato, disse que tenta apenas sobreviver. “Não apoiei a invasão, mas também não sou traidora. Estou na minha casa, lutando para continuar.” Enquanto isso, civis russos começam a ocupar casas abandonadas, atraídos por incentivos econômicos. Propriedades em Mariupol e na Crimeia estão sendo disputadas por recém-chegados, enquanto os antigos moradores permanecem invisíveis ou silenciados pelo medo.
Para Liubov, de 64 anos, que fugiu de Melitopol, a perspectiva de ceder território é amarga. Ela sonha em voltar para cuidar de seu jardim, mas admite que suas esperanças são frágeis. Já uma mãe em Dnipro vive separada dos dois filhos: um apoiador da Rússia e outro preso em Donetsk. Pesquisas mostram que parte da população exausta aceita a divisão territorial como preço pela paz, mas o custo emocional é imenso. Sem o apoio dos EUA, o futuro da Ucrânia é incerto, e a possibilidade de reunificação parece cada vez mais distante, deixando cicatrizes que podem nunca ser curadas.


