
A decisão do governo americano de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, supostamente para corrigir um “desequilíbrio comercial”, revela-se uma estratégia falha ao expor contradições gritantes. Dados oficiais mostram que os Estados Unidos mantêm um superávit comercial de US$ 12 bilhões com o Brasil, desmentindo o discurso de Trump sobre práticas desleais. Analistas apontam que as medidas têm claro objetivo político: pressionar o STF a arquivar processos contra Bolsonaro e atingir o ministro Alexandre de Moraes, responsável por combater a desinformação. A jogada, porém, saiu pela culatra ao unir setores tradicionalmente antagônicos no Brasil em defesa da soberania nacional.
A retaliação atingiu seu ápice com a suspensão de vistos americanos para ministros do STF e o procurador-geral da República, medida considerada um ataque sem precedentes ao Judiciário brasileiro. Internamente, a ação fortaleceu o apoio a Lula, que soube capitalizar o sentimento nacionalista em meio à crise. Pesquisas revelam que até parcelas do empresariado – antes críticas do governo – passaram a enxergar as tarifas como uma ameaça aos interesses econômicos do país. O episódio expôs a fragilidade da argumentação americana, especialmente quando diplomatas anônimos classificaram as sanções como “um tiro no pé” para a imagem dos EUA como defensores da democracia.
O Washington Post destacou o efeito reverso da estratégia trumpista: em vez de isolar o Brasil, as tarifas consolidaram uma rara convergência entre governo, setor produtivo e opinião pública. Enquanto Trump esperava fragilizar Lula, acabou por fornecer ao presidente brasileiro um inimigo externo conveniente, capaz de reunir até adversários em torno de uma causa comum. A comunidade empresarial, tradicional aliada de governos conservadores, manifestou preocupação com os impactos reais das tarifas em setores como aço e agricultura – justamente os que mais apoiavam Bolsonaro.
O caso tornou-se um estudo de como intervenções geopolíticas mal calculadas podem produzir resultados opostos aos pretendidos. Se o objetivo era enfraquecer o governo brasileiro, o efeito foi exatamente o contrário: Lula saiu fortalecido, o STF ganhou respaldo institucional e até mesmo a oposição moderada se viu obrigada a criticar a intromissão americana. Enquanto isso, nos EUA, vozes dentro do Departamento de Estado já questionam publicamente os reais motivos por trás das tarifas, sugerindo que Trump priorizou caprichos pessoais sobre interesses nacionais. O episódio deixa claro que, no tabuleiro geopolítico, movimentos aparentemente agressivos podem se revelar estratégias autodestrutivas.


