BAHIA — Um clima de tensão e indignação paira sobre o futebol feminino brasileiro após um episódio lamentável de racismo durante a partida entre Bahia e JC Futebol Clube, pelas quartas de final da Série A2 do Campeonato Brasileiro. Na noite da última segunda-feira (8), o técnico português Hugo Duarte, do time amazonense, foi preso em flagrante por suspeita de injúria racial contra a zagueira do Bahia, Suelen Santos.
O fato ocorreu após o término da partida, que terminou empatada em 0 a 0, mas com o Bahia se classificando às semifinais por ter vencido o jogo de ida por 2 a 0. Segundo relatos de Suelen e de testemunhas, Duarte teria proferido ofensas racistas contra a jogadora durante uma confusão generalizada em campo.
A imediata reação da atleta e a presença de árbitros e da equipe de segurança do estádio permitiram que o episódio fosse registrado em boletim de ocorrência na Central de Flagrantes. Diante das provas e do flagrante, Hugo Duarte foi preso por suspeita de injúria racial.
Medidas cautelares e repúdio da OAB
Na manhã desta quarta-feira (10), após audiência de custódia, a juíza Marcela Moura França determinou a soltura provisória do treinador, mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 42 mil e o cumprimento de uma série de medidas cautelares. Entre elas, está a manutenção de uma distância mínima de 200 metros da vítima, Suelen Santos, a obrigatoriedade de comparecimento em juízo a cada dois meses pelo prazo de um ano e a restrição de se ausentar de Manaus (AM), onde reside, sem autorização judicial.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da Bahia se manifestou em nota oficial, repudiando veementemente a atitude do técnico português e prestando apoio à jogadora Suelen Santos e ao time do Bahia. A entidade classificou o comportamento de Duarte como “machista, misógino e racista”, ressaltando que “o futebol feminino é um espaço de empoderamento e fortalecimento da pluralidade e diversidade de todas as mulheres, e não pode admitir atitudes racistas e machistas, principalmente quando tomadas por pessoas que deveriam ser exemplo na luta contra o preconceito”.
Repúdio dos clubes e desabafo da jogadora
Ainda na noite de segunda-feira, os clubes Bahia e JC Futebol Clube repudiaram o ocorrido em suas redes sociais. Na terça-feira (9), Suelen Santos utilizou suas redes sociais para desabafar sobre o episódio, lamentando a naturalização do racismo no esporte e reafirmando seu compromisso na luta contra o preconceito.
“A Constituição Brasileira delineia o direito de ser tratado como igual perante os demais membros da sociedade, sem discrição de etnia e raça”, defendeu a atleta. “A naturalização que foi proferida mais de uma vez pela expressão racista ‘macaca’ tenta silenciar a minha figura como mulher preta no esporte, porém o ato denúncia é a arma que tenho para combater o racista”.
O caso segue sob investigação da Polícia Civil e da Federação Bahiana de Futebol (FBF), que já abriu um processo disciplinar para apurar a conduta do treinador. O episódio serve como um triste lembrete da necessidade de um combate ainda mais contundente ao racismo e à discriminação em todas as esferas da sociedade, inclusive no esporte.