Era uma manhã como tantas outras dos anos 50, mais precisamente, uma manhã do ano de 1957. Um barco motor, não lembro seu nome, rebocava, enfileirados, dezenas de pequenos batelões cuja silhueta, sinuosa, parecia a de uma gigantesca serpente; de um desses pequenos barcos, chegando em Manaus, pulei para sua proa deslumbrado com o que via. O sol já aparecia no horizonte e como aprendemos com os nativos mais antigos, beirava às sete horas; o ar era lépido e sua aura suavizava nossa tez. Lembro que um Catalina da antiga Panair sobrevoava aquela área destinando-se ao que, mais tarde, saberia tratar-se do Aeroporto de Ponta Pelada.
Eu tinha apenas dez anos quando nosso batelão aportou próximo ao Mercado Municipal. Por lá ficamos, até que o destino nos trouxe um conhecido, na verdade, uma pessoa da família de meu pai. Seguimos, então, com o bom samaritano, até sua residência, nos arredores da Avenida Beira-Mar, no Bairro dos Educandos.
Ali renovava-se, todo dia, a esperança que sempre habitou em meu pai; na Manaus que ainda tinha resquícios da Belle Époque. Sempre sonhei com as comodidades, com tudo que tornasse a vida mais cômoda, mais bonita e à medida que passava os anos mais sonhos se avolumavam na minha mente ainda juvenil, depois adolescente, jovem e adulta. Alguns desses sonhos, tenho certeza, serão apenas quimera.
Manaus, cidade e hoje metrópole, é recortada por igarapés; traços geográficos que, com o passar dos tempos me fez sonhar com uma Veneza Cabocla, nos moldes da outra, guardado, naturalmente, época, estilo e o firme propósito dos executivos daquela Província Italiana.
Já faz mais de 60 anos desde quando comecei a sonhar; muitas legislaturas se passaram, mas nenhum executivo municipal pensou, sequer, em um projeto de revitalização dos igarapés de Manaus.
A foto postada nesta matéria, guardado o estilo de suas construções, é como sonhei ver um dia nosso igarapé dos Educandos, haja vista suas aparência geográfica; infelizmente, para mim, será apenas uma utopia.