Os anseios, desafios e oportunidades para a Amazônia serão levados ao Papa Francisco e Vaticano em outubro deste ano, durante o inédito sínodo dos bispos da Igreja Católica sobre a região. Um evento preparatório acontecerá em Manaus, nos dias 7 e 8 de março, com o objetivo de reunir diferentes setores da sociedade para um diálogo inter-religioso sobre o tema, à luz do desenvolvimento sustentável.
O seminário “Sínodo da Amazônia: contribuições a partir do desenvolvimento sustentável” será realizado pela Arquidiocese de Manaus, Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), Fundação Amazonas Sustentável (FAS), com apoio da a Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN-Amazônia), e Instituto Clima e Sociedade (ICS).
O objetivo é envolver especialistas, empresários, representantes de instituições governamentais e não-governamentais e sociedade para contribuírem sobre a Amazônia a partir de seus aspectos social, ambiental e econômico, bem como as tendências diante dos cenários das mudanças climáticas e políticas de desenvolvimento dos governos nacionais, estaduais e municipais. As inscrições já podem ser feitas nos sites da Arquidiocese e da FAS, ou direto no link.
O seminário levantará iniciativas promissoras que possam apontar caminhos para o desenvolvimento sustentável, bem como recomendações orientadas para a promoção da conservação na Bacia Amazônica, além de analisar como as religiões podem promover a espiritualidade e cultivar as virtudes e o diálogo inter-religioso em nível local.
Convocado em 2017 pelo Papa, a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica é um dos eventos mais importantes da Igreja Católica e, de 6 a 27 de outubro de 2019, reunirá bispos da Amazônia e do mundo inteiro para discutir novos caminhos para a Igreja na Amazônia, que incluem não apenas o processo de evangelização e presença da Igreja em toda a região, mas também versa sobre uma ecologia integral, onde o homem, a natureza e os animais estão interligados, relacionam-se entre si, convivendo em harmonia, cuidando da Casa Comum.
Para o arcebispo de Manaus, Dom Sérgio Castriani, no sínodo a Igreja tem como propósito ouvir a sociedade sobre o que pensa sobre os diversos temas sobre a Amazônia, especialmente a ecologia. “A igreja está interessada em saber o que a sociedade pensa sobre a vida, porque o Espírito Santo também age no mundo. Queremos saber o que as pessoas pensam, as forças que agem e pensam no mundo da ecologia, pois temos os mesmos propósitos: o cuidado com a Casa Comum. O caminho sinodal da igreja católica não tem medo de escutar as vozes do mundo e da sociedade”, enfatiza o arcebispo.
Para o superintendente-geral da FAS, Virgílio Viana, o evento é uma oportunidade única de o mundo ouvir os anseios pelo desenvolvimento sustentável da região. “O sínodo para a Amazônia, convocado pelo Papa Francisco, é uma oportunidade de ouro para refletirmos sobre os acertos e desacertos do processo de desenvolvimento da Pan-Amazônia, que envolve, além do Brasil, outros oito países. É um momento ímpar para promovermos o diálogo entre a ciência, os empresários, povos indígenas, populações tradicionais, sociedade civil como um todo, lideranças políticas e setores públicos no executivo, legislativo e judiciário. Esta á uma agenda que tem um caráter de debate inter-religioso que extrapola os limites da igreja católica para alcançar toda a sociedade”, enfatiza o superintendente-geral da FAS, Virgílio Viana.
Programação
Na quinta-feira (7), o evento será realizado no Auditório do Centro Arquidiocesano São José, localizado à Rua Leonardo Malcher, 768, Centro, Zona Sul da Cidade, com capacidade para 250 pessoas. Na sexta-feira (8), as discussões serão realizadas em sete grupos temáticos, e acontecerão na sede da FAS, Rua Álvaro Braga, 351, Parque 10 de Novembro, zona Centro-Sul de Manaus, com capacidade para 150 pessoas.
O primeiro dia do seminário, 7 de março, contará com apresentações sobre a história e a realidade social, ambiental e econômica da Amazônia, bem como seus principais desafios.
A abertura do evento será às 9h, com a mesa “A visão do Papa Francisco sobre o cuidado com a casa comum e a Amazônia”, e contará com a presença do presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e arcebispo emérito de São Paulo, Dom Cláudio Hummes, do chanceler da Pontifícia Academia de Ciências do Vaticano, Marcelo Sorondo e do superintendente-geral da FAS, Virgílio Viana.
A segunda sessão começará às 11h20, e versará sobre “O papel da Igreja Católica na formação de lideranças socioambientais da Amazônia”. Dentre os debatedores confirmados nesta mesa, estão Francisco Lima, secretário regional da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB); Ademar Cruz, coordenador do Programa de Desenvolvimento Integral de Crianças e Adolescentes Ribeirinhas da Amazônia (Dicara) da FAS; Francisca Lima, presidente da Cáritas do município de Tefé; Alcione Meirelles, liderança comunitária da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá; e Maria Auxiliadora, membro da União das Mulheres Indígenas da Amazônia.
Temas centrais
Pela parte da tarde do dia 7, a partir das 14h, os temas centrais da discussão serão apresentados em painéis. O painel 1 versará sobre agenda ambiental, com foco na proteção dos rios e lagos, e desmatamento e degradação florestal. Participarão dos painéis os doutores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Adalberto Val e Philip Fearnside, com moderação de Alice Amorim, coordenadora do Portfólio de Política Climática e Engajamento, do Instituto Clima e Sociedade.
O segundo painel versará sobre a agenda econômica para a região, com foco em grandes obras e infraestrutura, com a especialista no assunto Ana Cristina Barros, e mudanças climáticas e impacto econômico, com Sérgio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas. A moderação será feita pelo secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, Eduardo Taveira.
O terceiro painel preparador terá como foco a agenda social. Os temas versam sobre a defesa dos territórios indígenas, com professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e liderança indígena Gersen Baniwa, tráfico de pessoas, abuso contra mulheres, crianças e a prostituição, com a Irmã Rose Bertoldo, da Rede Um Grito pela Vida, e também espiritualidade e cultivo de virtudes, com o líder religioso Pai Alberto Jorge.
Grupos de trabalho temáticos
O segundo dia (8) será destinado a grupos de trabalho temáticos, que terão como foco a busca de soluções concretas para o desenvolvimento sustentável a serem encaminhadas ao Vaticano.
Os trabalhos iniciam a partir dos temas discutidos no dia anterior: proteção dos rios e lagos; grandes obras e infraestrutura; desmatamento e degradação florestal; mudanças climáticas e impacto econômico; defesa dos Territórios Indígenas; tráfico de pessoas, abusos contra mulheres e crianças e a prostituição; e espiritualidade & cultivo de virtudes. As discussões de cada grupo ocorrerão entre 9h e 12h, na sede da FAS, no bairro Parque 10.
Pela parte da tarde, a partir das 14h, serão apresentados e debatidos os resultados das discussões, bem como o compilamento de recomendações e encaminhamentos futuros.