Seca na Amazônia deve ser a pior e se estender até 2024

O INPE alerta que a Amazônia pode viver a pior seca de sua história com combinação de Atlântico anormalmente quente com um El Niño forte.

Condições climáticas muito diferentes das observadas em outros anos estão por trás da seca extrema que castiga a região amazônica, alertam cientistas. A seca deve atingir uma área ainda maior e pode se prolongar até o fim do primeiro semestre de 2024, ampliando a tragédia humana e ambiental na Amazônia, e com efeitos para o clima de outras partes do país.

No fim de semana, o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) chamou atenção que a estiagem poderia bater recordes e se estender até janeiro. Agora, Gilvan Sampaio, coordenador geral de Ciências da Terra do Inpe, faz alerta similar.

O especialista afirmou que o El Niño tem levado a culpa sozinho, mas não é o principal responsável neste momento, mas sim o aquecimento excepcional do Oceano Atlântico Tropical Norte. O El Niño, porém, deve intensificar seus efeitos já na primavera. Combinados, os efeitos dos dois fenômenos podem provocar uma seca longa e devastadora, talvez a pior dos registros.

“Temos a pior combinação possível. Se as condições atuais do Atlântico Tropical Norte permanecerem e o El Niño continuar a se intensificar, esta poderá ser a pior seca da Amazônia. E o mesmo pode acontecer no Semiárido nordestino em 2024”, enfatiza.

O aquecimento anormal do Atlântico também é ressaltado por especialistas ouvidos pela Agência Pública. Os meses de agosto, setembro e outubro – o chamado “verão amazônico” –, são tradicionalmente secos, mas neste ano, de acordo com relato de cientistas que estudam a região, o quadro ficou mais grave, e a estiagem se instalou de um modo mais rápido.

Instituto

O engenheiro ambiental Ayan Fleischmann, que faz o monitoramento dos rios no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, afirma que a estiagem ainda não chegou aos recordes de 2010, mas a expectativa é que a situação ainda piore. Isso porque, historicamente, os níveis mais baixos ocorrem em meados de outubro. “Esperamos mais um mês de crise, pelo menos.”

Os efeitos maléficos da estiagem extrema não param de crescer. Já são pelo menos 170 mil amazônidas com dificuldades de acesso a água, comida e transporte, e a expectativa é que esse número chegue a 500 mil pessoas. Nos últimos dias, especialistas do Mamirauá constataram a morte de pelo menos 110 botos e tucuxis no Lago Tefé, próximo a Manaus (AM).

No fim de semana, a vila de Arumã, também no Amazonas, às margens do rio Purus, “despencou” após o fenômeno conhecido como “terras caídas”, o que matou pelo menos duas pessoas e desalojou outras 200. E a quarta maior hidrelétrica do país, Santo Antônio, em Rondônia, paralisou suas operações, pela baixa histórica registrada no rio Madeira.

As causas da mortandade dos botos e do desbarrancamento da Vila de Arumã ainda estão sendo investigadas. Mas todos os indícios apontam para uma relação direta com a seca extrema. No primeiro caso, a queda do nível da água pode ter provocado superaquecimento do lago e matado os animais. No segundo, a estiagem parece ter agravado um fenômeno natural na região.

O coordenador da Federação das Organizações de Comunidades Indígenas do Médio Purus, Zé Bajaga Apurinã, explica que normalmente grandes pedaços de terra despencam nas margens dos rios. Mas dessa vez uma grande cratera se abriu de uma vez só, incluindo um pedaço mais distante da água.

“Parece coisa de filme. A terra não despencou, mas afundou, foi sugada. Nunca tínhamos visto uma cratera assim, até conversei com os mais velhos e eles falaram isso. Normalmente, nos deslizamentos, caem pedaços grandes, blocos de até 30 metros, mas no curso do rio”, ressalta o líder indígena.

fonte: Climainfo