Ribeirinhos do Mamori entram em confronto com FDN

Os moradores da localidade viveram momentos de terror até que resolveram eliminar seus algozes © Divulgação

Dois barcos com estudantes, menores, atacados a tiros. Mães dormindo no mato, com os filhos, enquanto pais fazem guarda armada. Flutuantes sendo abandonados, depois de “limpeza” por assaltantes. Ribeirinhos da comunidade São José, lago do Batata, paraná do Mamori, Careiro Castanho, supostamente, se revoltaram. Três dos responsáveis pelo terror foram mortos e outro se entregou à polícia. Os mortos eram da facção criminosa Família do Norte (FDN), que está enviando meliantes para se vingar dos matadores. O paradisíaco Mamori virou um inferno.

O cenário é apocalíptico. Lembra o filme Mad Max. É surreal.

Os ribeirinhos estão refugiados na escola municipal Pancrácia Ferreira Nobre, da comunidade São José. Ameaçados por homens da FDN, eles mandaram famílias para o Careiro Castanho e estão dispostos a resistir. “Meu pai, meus irmãos, meus amigos estão todos lá, dentro dessa escola, sem saber se vão sobreviver”, disse uma moradora, aos prantos.

Os integrantes da FDN chegam em motos, pelos ramais, armados e ameaçadores. “Disseram que não vão deixar barato essas mortes. Acabou a nossa paz”, disse um ribeirinho.

Tiros contra barcos com estudantes

Os relatos dos moradores são contundentes. Os barcos Ribeiro Neto e Salmo 91, que fazem condução escolar, foram alvejados lotados de alunos. Um casal de anciãos, que mora no fim do ramal do Batata, foi roubado e ferido gravemente à bala. A dona de flutuante atracado no porto da comunidade São José entrou em depressão, após assalto, e abandonou a propriedade. Dona Elizabeth Ribeiro se mudou para a sede municipal do Careiro Castanho, onde moradores estão indo dormir.

“Essa situação dura mais de um ano. Esse pessoal vinha aterrorizando todos nós. Eles colhiam nossas plantações, assaltavam e feriam. A polícia descobriu que a casa deles era um armazém de coisas roubadas”, testemunha uma moradora.

Terror na madrugada

Edinho e Lene, casal de comerciantes, dono de flutuante, foram surpreendidos à noite, com três filhos. Amarrado, humilhado, sob ameaça de ter os pulsos cortados, o pai entregou tudo. “Levaram dois botes lotados de mercadoria do flutuante dele”, conta uma testemunha. “Segunda-feira (12/06), eles pegaram o casal de velhinhos que morava no fim do ramal do Batata, roubaram e machucaram. O velhinho levou um tiro e está internado, muito mal, em Manaus”, conta outra.

Sem aula, todos armados

A escola da comunidade São José não tem aula desde o começo da semana. Os pais se recusam a deixar os filhos irem para a escola, depois das mortes dos bandidos e das ameaças dos comparsas.

Os ribeirinhos passaram a andar armados e desconfiam de estranhos. Até então a região era conhecida pelo acolhimento, recebendo muitos turistas estrangeiros, em busca da pesca esportiva do tucunaré.

Confronto

O ataque aos barcos de estudantes foi a gota d’água para o confronto. Os ribeirinhos reuniram as armas de caça e cerca de 30 resolveram enfrentar os marginais. A certeza de impunidade era tão grande, que todos sabiam onde os assaltantes estavam, mas ninguém tinha coragem de enfrentá-los.

Quando os 30 homens chegaram, em um barco maior e várias voadeiras, foram recebidos a tiros, inclusive de fuzil. Eles avançaram e mataram três, enquanto o quarto, ferido, se embrenhou na mata. Na quarta-feira (14/06), se entregou à polícia do Careiro Castanho.

PM promete agir

O chefe do Estado Maior da Polícia Militar, coronel Júlio Sérgio, foi alertado sobre a gravidade da situação. Ele acionou o policiamento do interior e prometeu ação no Lago do Batata. *Portal do Marcos Santos