
MANAUS, AM — O céu de Manaus foi rasgado por uma sucessão de estampidos na noite deste domingo (14). Entre 20h e 20h30, moradores de ao menos seis zonas da capital — Compensa, Cidade Nova, Jorge Teixeira, Alvorada, Redenção e Zumbi dos Palmares — registraram, perplexos, uma queima de fogos sincronizada, intensa e incomum. Não era festa. Não era celebração cívica. Era, segundo relatos que circulam em redes fechadas, uma demonstração de força do Comando Vermelho (CV).
A hipótese, ainda não confirmada oficialmente pelas autoridades, ganhou corpo após a disseminação de mensagens atribuídas à facção, nas quais se comemora a “consolidação do domínio” sobre o bairro Nossa Senhora de Fátima — área conhecida como “Buracão”, na zona norte, historicamente disputada por grupos criminosos.
“Foi como um sinal”, relata um morador da Cidade Nova, que preferiu não se identificar. “Não era aleatório. Parecia ensaiado. Todo mundo assustado, ninguém sorrindo.”
A Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) informou que as imagens e áudios colhidos por moradores estão sendo analisados por equipes de inteligência da Polícia Civil e da Divisão de Inteligência da Polícia Militar. Até o momento, nenhuma confirmação formal foi emitida sobre a autoria ou motivação do evento. A investigação busca estabelecer se houve coordenação centralizada, logística de distribuição de material e se o ato configura apologia ao crime ou demonstração de poder paralelo.
Enquanto isso, o silêncio oficial contrasta com o burburinho nas comunidades. Psicólogos sociais ouvidos extraoficialmente pela reportagem alertam para o efeito de intimidação coletiva: “Esse tipo de ato não é só para ‘comemorar’. É para marcar território, para lembrar à população — e às facções rivais — quem está no comando. É terrorismo psicológico institucionalizado”, afirma um especialista em violência urbana, sob condição de anonimato.
A PM reforçou o patrulhamento nas áreas afetadas durante a madrugada, mas não registrou confrontos, tiroteios ou novas ocorrências ligadas ao episódio. A SSP-AM reitera que qualquer ato que promova facções criminosas será tratado como infração penal e que as investigações seguem em caráter prioritário.
Enquanto Manaus tenta decifrar os fogos da quinta-feira, uma pergunta paira no ar: em que medida o Estado ainda controla o território — ou apenas reage a ele?


