Protestos contra Maduro na Venezuela têm 16 mortos, denuncia ONG

Agente da Polícia Nacional dispara bala de borracha contra manifestante em Caracas. Foto: Manaure Quintero | Reuters

Os protestos contra o presidente Nicolás Maduro na Venezuela já deixaram 16 mortos entre terça e a noite desta quarta-feira, denuncia uma ONG de direitos humanos. A maioria das vítimas foi atingida por arma de fogo, na capital Caracas e nos estados de Táchira, Barinas, Portuguesa, Amazonas e em Bolívar, este na fronteira com o Brasil. O Observatório Venezuelano do Conflito Social (OVCS), crítico do governo bolivariano, informou que ocorreram tiroteios, saques e estouros de granadas durante as manifestações.

O portal venezuelano Efecto Cocuyo reportou que houve violência em protestos em Palo Verde, Petare, Catia e San Martín, na noite desta quarta-feira. A situação mais crítica ocorreu no fechamento do elevado de Palo Verde, depois que, segundo policiais, grupos armados deixaram os bairros das redondezas e abriram fogo. O tiroteio se estendeu até 22h30 (20h30 de Brasília), segundo o portal. Duas granadas foram lançadas no bairro José Félix Ribas — apenas uma explodiu.

Além dos enfrentamentos, a mídia venezuelana destaca que houve saques a estabelecimentos. Um supermercado de La Venga e lojas de Las Adjuntas e da avenida San Martín foram alvo. Para reprimir os protestos, foram às ruas agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), das Forças de Ações Especiais (Faes), da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) e oficiais da Guarda Nacional Bolivariana — considerada o elo mais fraco de Maduro, os militares haviam sido convocados pela oposição a não reagirem com violência contra os manifestantes.

As manifestações mais fortes começaram na noite de terça-feira em Caracas e em Bolívar. Na ocasião, quatro pessoas foram mortas — entre elas, um jovem de 16 anos, na favela de Catia. Estenderam-se na quarta-feira em outras regiões do país, em meio a uma jornada de grandes protestos de opositores e governistas. O líder do Parlamento, Juan Guaidó, declarou-se presidente interino e foi assim reconhecido por dez países, incluindo o Brasil. Já Maduro prometeu resistir no poder e rompeu relações diplomáticas com os Estados Unidos.

Agentes antimotim entraram em confronto com um grupo de manifestantes em um setor do Leste de Caracas, após a marcha opositora. Os choques foram desencadeados quando dezenas de jovens, alguns encapuzados, bloquearam uma importante avenida do bairro de Altamira. Militares tentaram tirá-los do local com bombas de gás lacrimogêneo e disparos de balas de borracha. Os manifestantes responderam com pedradas.

Em Bolívar, na cidade de San Félix, uma estátua do ex-presidente Hugo Chávez foi queimada por dezenas de manifestantes. Os focos de protesto começou depois que, na segunda-feira, um grupo de militares e oficiais da Guarda Nacional Boliviariana (GNB) se amotinou contra o governo. O grupo roubou armas e veículos militares, entrincheirou-se no quartel de Cotiza, em Caracas, e chamou o povo às ruas. Grupos civis apoiaram o motim e também saíram em protesto. O governo logo contra-atacou e deteve 27 militares.

As marchas desta quarta-feira, que tiveram mais de 20 detidos, foram o primeiro grande desafio entre governo e oposição nas ruas desde as manifestações que deixaram 125 mortos entre abril e julho de 2017. Convocados por Guaidó, os opositores exigiram que Maduro deixe o poder e convoque um governo de transição. Governistas denunciam um suposto golpe de Estado orquestrado pelos EUA e defendem a legimidade do bolivariano por ter sido eleito em maio para o segundo mandato, não reconhecido por mais de 40 países.

Por O Globo e AFP