
BRASÍLIA, DF — Um protesto inesperado marcou a abertura do 2º Encontro Nacional Mulheres Republicanas, realizado nesta sexta-feira (21) em Brasília. Teresa Valle, mãe de um dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, invadiu o palco para questionar o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), sobre suas declarações recentes de que “não há exilados políticos no Brasil”.
Teresa, cujo filho está exilado após ter sido preso e passar sete meses detido, desafiou Motta com uma pergunta direta: “Se o Brasil não tem exilados políticos, por que meu filho precisou deixar o país?”. A manifestação gerou comoção no auditório e terminou com sua retirada forçada do local, sob acusações de tumultuar o evento. Contudo, ela recebeu apoio da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que prometeu escutar seu relato após o término do encontro.
Emocionada, Teresa declarou que representa outras mulheres que sofreram com as prisões ocorridas após os eventos de 8 de janeiro. “Estou aqui falando por todas as mães que viram seus filhos injustiçados, presos e humilhados. Meu filho dividia cela com Clesão, que morreu na Papuda. Se ele não tivesse saído, estaria morto também”, afirmou. Para ela, as palavras de Motta ignoram a dor de famílias que enfrentaram perseguições e dificuldades extremas.
O episódio foi motivado por uma fala de Motta durante sessão solene da Câmara dos Deputados no dia 15 de março, onde ele negou a existência de exílios políticos no Brasil pós-redemocratização. Teresa, que diz não entender muito de política, afirmou que sua presença no evento foi motivada pela busca por justiça. “Eu só queria ser ouvida. Não sou uma pessoa que cria confusão, sou uma mãe que luta pelo próprio filho”, disse, visivelmente emocionada.
Apesar do incidente, o encontro prosseguiu com sua agenda, focando em temas como a participação feminina na política e a formação de lideranças dentro do partido Republicanos. No entanto, o protesto trouxe à tona questões sensíveis relacionadas aos impactos dos eventos de 8 de janeiro, especialmente para as famílias afetadas.
Para Teresa, o momento foi mais do que um protesto político: foi um grito por reconhecimento e dignidade. “Não sou uma mulher que busca tumultuar, mas sim justiça para meu filho e tantas outras pessoas que estão sofrendo caladas”, concluiu. O episódio reacendeu debates sobre as consequências dos atos de 8 de janeiro e as narrativas oficiais que tentam minimizar suas repercussões humanas.