
ECONOMIA —Ter um carro zero km é um dos sonhos de consumo mais tradicionais do brasileiro, um símbolo de conquista e mobilidade. No entanto, realizar esse desejo tornou-se um desafio financeiro cada vez maior para a maioria da população, com valores que beiram o surreal para quem está fora do mercado automotivo.
A escalada de preços é evidente. Basta uma breve pesquisa: o modelo zero km mais barato disponível no país hoje é comercializado na casa dos R$ 70 mil. Para a classe média, porém, a realidade é ainda mais dura. Um levantamento recente da consultoria especializada JATO Dynamics aponta que o preço médio de saída das concessionárias para um veículo de passeio atingiu a marca histórica de R$ 152.727,40 em agosto. O valor representa um aumento expressivo de quase 3,5% em relação a julho, quando a média era de R$ 147.769,80.
Mas o que está por trás dessa valorização acelerada?
O estudo aponta que a mudança no perfil de consumo do brasileiro é um dos principais motores do aumento do preço médio. Os SUVs compactos, hoje a categoria absoluta de maior vendagem no país, substituíram os hatchbacks populares como escolha número um. Estes veículos, naturalmente mais equipados e caros, elevam o “ticket médio” da indústria como um todo. O que se vende mais é, em média, mais caro.
Contudo, a explicação vai além da preferência do consumidor. Uma conjunção de fatores macroeconômicos e industriais pressiona os preços para cima:
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Custos de Produção: A indústria enfrenta o encarecimento de insumos cruciais, como o aço e os componentes eletrônicos, que se tornaram mais escassos e caros globalmente após a pandemia.
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Tecnologia e Sustentabilidade: A valorização e a maior oferta de modelos híbridos e elétricos, tecnologias ainda com preço premium, também contribuem para inflar a média geral, mesmo que sua participação de mercado ainda seja minoritária.
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Câmbio Desfavorável: A contínua desvalorização do Real frente ao Dólar tem impacto direto e significativo. Grande parte dos veículos, componentes e tecnologia são importados ou indexados à moeda norte-americana, encarecendo a produção nacional.
O resultado é um mercado automotivo cada vez mais segmentado, onde o carro zero km consolida-se como um produto de luxo para uma parcela restante da população, enquanto a grande maioria recorre ao mercado de usados, alongando ainda mais o ciclo de vida dos veículos, para manter o direito de sonhar com as ruas.


