Ian Haydon foi voluntário nos testes da vacina da Moderna contra o coronavírus no ano passado. Agora, ele está ajudando a testar uma nova versão da vacina, projetada para combater uma variante mais contagiosa.
“Um ano atrás eu participei dos testes da vacina da Moderna para ver se ela era segura. Agora, quando completei um ano desde a vacinação, estou feliz em compartilhar que eu acabei de receber a segunda dose. Este experimento vai mostrar se as vacinas adaptadas às novas cepas aumentam a imunidade e são seguras”, escreveu Haydon, que é especializado em comunicação na Universidade de Washington, em sua conta no Twitter no último sábado (3).
“AInda não está claro se essa nova versão vai ser mesmo necessária, mas ela está sendo desenvolvida e testada para que possamos ter uma opção”, disse Haydon.
Os médicos estão preocupados que o coronavírus causador da Covid-19 possa seguir a dinâmica dos vírus da gripe, que necessitam de novas vacinas a cada ano, e isso porque tanto as cepas em circulação sofrem mutações rapidamente quanto porque a imunidade da vacina diminui em pouco tempo.
Embora as primeiras evidências sugiram que a imunidade da vacina contra a Covid-19 forneça proteção duradoura, os fabricantes de vacinas já começam a testar e a produzir novas versões dos imunizantes voltadas contra as variantes mais preocupantes do vírus, o que inclui da cepa B.1.351, vista pela primeira vez na África do Sul, e que, nos testes em laboratório, carrega em si uma mutação que parece driblar a resposta imunológica do corpo humano.
O último relatório da Pfizer mostra que as pessoas vacinadas no país africano após receberem doses de sua vacina continuaram protegidas mesmo depois que a nova cepa se tornou a dominante. Isso corrobora experimentos em laboratório que mostraram que o imunizante gera uma resposta imunológica tão forte ao coronavírus que acaba fornecendo proteção também contra as mutações.
“A vacina ainda tem resposta suficiente a ponto de gerar uma boa proteção”, disse Scott Hensley, imunologista e especialista em vacinas da Universidade da Pensilvânia.
Apesar disso, os fabricantes de vacinas não querem correr riscos. A pesquisa da qual Haydon está participando não inclui somente uma terceira dose da vacina da Moderna alterada especificamente para combater a variante da África do Sul, mas também uma terceira dose da vacina original em alguns voluntários. A ideia é saber se a resposta imune reforçada pela terceira dose original também garante uma vantagem e é segura.
Em relatório divulgado em março, a Pfizer sugere que pessoas que receberam as duas doses de seu imunizante permanecem com forte proteção imunológica por pelo menos seis meses. Os pesquisadores têm se esforçado em dizer que isso não significa que a imunidade chegue ao fim depois de seis meses, mas que a pesquisa mais extensa chegou a essa conclusão pelo menos por este período. É provável que a imunidade dure muito mais tempo, explica Hensley.
“Eu não ficaria surpreso se concluíssemos que mesmo um ano depois da vacinação ainda haverá forte resposta do sistema imunológico”, pontua. “Nem ficaria surpreso se tivéssemos que ser vacinados apenas uma vez para tanto”.
Se isso acontecer, a vacina contra a Covid-19 se assemelharia mais aos imunizantes contra o sarampo do que com as vacinas contra a gripe. No caso do sarampo, a proteção dura por toda a vida em 96% dos casos.
A proteção fornecida pelas duas doses da vacina da Pfizer ainda permanece acima de 91% mesmo depois de seis meses, de acordo com a empresa. A companhia divulgou mais detalhes em um comunicado, mas não em uma publicação científica tradicional, e os dados abrangem apenas algumas milhares de pessoas. Mas, se persistir, será uma indicação de que as vacinas da Pfizer e da Moderna provocam respostas imunológicas de longa duração, dizem os especialistas.
Hensley afirma que a tecnologia usada por ambas as vacinas – valendo-se do RNA mensageiro, ou mRNA – é especialmente potente.
“As respostas de anticorpos provocadas por essas vacinas de mRNA são incrivelmente altas. O que sabemos em testes com animais de outras vacinas de mRNA é que as respostas imunológicas são muito potentes e não diminuem com o tempo”, disse Hensley, cujo laboratório já testa há anos vacinas de mRNA.
Embora as vacinas contra a Covid-19 ainda sejam novas, uma vez que o vírus só existe desde o fim de 2019, a tecnologia de mRNA vem sendo estudada há muitos anos, e já é usada para fazer vacinas contra vírus influenza e os causadores do Ebola e da Zika. Vários estudos indicaram o mesmo também em relação ao novo coronavírus.
Em janeiro de 2021, uma equipe liderada pela pesquisadora Alicia Widge, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, escreveu à publicação científica New England Journal of Medicine para contar que sua pesquisa mostrou que as duas doses da vacina da Moderna produziram anticorpos cuja diminuição foi discreta ao longo do tempo.
A vacina também fez com que o corpo produzisse células T e B, que protegem o sistema imunológico, e que podem manter as defesas ativas por anos. Descobriram também que a resposta imune induzida pela vacina foi mais forte e abrangente do que a resposta imune que se segue a uma infecção natural pelo coronavírus .
Outro estudo publicado em fevereiro no New England Journal of Medicine mostrou que o sangue coletado de pessoas vacinadas com o imunizante da Pfizer/BioNTech continuaram produzindo resposta imunológica também contra a variante da África do Sul.
“Apesar de ainda não sabermos exatamente qual o nível de neutralização necessário para a proteção contra a doença ou a contaminação pelo coronavírus, nossa experiência com outras vacinas nos diz que é provável que a vacina da Pfizer ofereça uma proteção relativamente boa contra essa variante”, diz Scott Scott Weaver, diretor do Instituto de Infecções Humanas e Imunidade da Universidade de Medicina do Texas.
No entanto, em março, virologistas sul-africanos argumentaram que há evidências crescentes de que as vacinas em desenvolvimento não funcionam tão bem contra o B.1.351, e recomendaram que os fabricantes de vacinas comecem a alterar suas fórmulas desde já.
Embora os testes clínicos exijam coletas de sangue frequentes para verificação da imunidade, Haydon mal entende o quanto está bem protegido do vírus.
“Sei que no início do ensaio eu e todos os outros participantes desenvolvemos anticorpos neutralizantes. Isso ficou claro muitos meses atrás, mas o nível desses anticorpos e como esse nível foi mudando ao longo do tempo não é algo que nos foi dito”, disse Haydon. “Esse é um dos principais fatores que estão sendo analisados no estudo”.
Haydon teve uma forte reação depois da primeira rodada de vacinação, e também registrou alguns efeitos depois de tomar a terceira dose. “Acabei com febre, calafrios, um pouco de náusea e dor de cabeça”, contou.
Os imunologistas explicam que isso é um sinal de que o sistema imunológico está respondendo à vacina, embora as pessoas que passaram incólumes pela vacinação também estejam protegidas. Ou seja, não é porque alguém reagiu com febre que está mais protegido do que quem não apresentou nenhum sintoma.
Mas Haydon sabe que não pode se comportar como se estivesse completamente imune. Por isso, ele usa máscara sempre que sai de casa e evita viajar. “Estamos vivendo em um mundo em que a maior parte das pessoas ainda não foi vacinada. O fato de eu mesmo ter sido vacinado não muda as coisas para mim”, explica o voluntário, que disse tomar muitos dos mesmos cuidados de uma ainda não vacinada.
Embora a possibilidade de ter que procurar um hospital por conta da Covid-19 seja muito reduzida, Haydon ainda pode espalhar o vírus, o que é uma preocupação. “Só muito recentemente começaram a surgir dados que mostram que as pessoas vacinadas transmitem menos o vírus. Então esta também é uma descoberta muito boa”.
FONTE: CNN