Quase dez anos depois de o Papa Bento XVI renunciar, o Vaticano foi tomado por um clima de tensão. Embora a decisão de Joseph Ratzinger, em 2013, não tenha sido antecipada, há alguns sinais que acenderam o alarme na Santa Sé. O Papa Francisco anunciou, no fim de semana, que visitaria a cidade italiana de L’Aquila em agosto para uma festa criada pelo Papa Celestino V, um dos pontífices que renunciaram antes do Papa Emérito, hoje com 95 anos e a saúde muito frágil.
Os jornais que cobrem o Vaticano especularam que Francisco, de 85 anos, estaria planejando seguir os passos de Bento XVI, em vista de seus crescentes problemas de mobilidade – ele tem um problema no joelho – que o forçaram a usar uma cadeira de rodas no último mês. Outro sinal de alerta foi o anúncio de um consistório, agendado para 27 de agosto, para criar 21 novos cardeais. Dezesseis deles têm menos de 80 anos e são elegíveis para votar em um conclave.
Além disso, Francisco também anunciou que realizaria dois dias de conversas na semana seguinte para informar os cardeais sobre as reformas no Vaticano. O documento, que entra em vigor no domingo, permite que as mulheres chefiem os escritórios da Santa Sé, impõe limites de mandato aos funcionários sacerdotais e posiciona a instituição a serviço das igrejas locais, e não vice-versa.
Francisco foi eleito papa em 2013 com um mandato para reformar a Cúria Romana. Agora que o projeto de nove anos foi lançado e pelo menos parcialmente implementado, a principal tarefa de Francisco como papa foi, de certa forma, cumprida. Tudo isso fez com que o anúncio de sábado de uma visita a L’Aquila ganhasse mais peso especulativo. “Com as notícias de hoje de que @Pontifex irá para L’Aquila no meio do consistório de agosto, tudo ficou ainda mais intrigante”, tuitou o jornalista Robert Mickens, que publicou um artigo no La Croix International sobre os rumores.
Na basílica de L’Aquila fica o túmulo de Celestino V, que em 1294 renunciou após cinco meses, sobrecarregado pelo trabalho. Em 2009, Bento XVI visitou L’Aquila, que havia sido devastada por um terremoto recente e rezou no túmulo de Celestino. Quatro anos depois, Ratzinger, de 85 anos, seguiria os passos do papa eremita e renunciaria, dizendo que não tinha mais força de corpo e mente para continuar os rigores do cargo.
Francisco elogiou a decisão de Bento XVI de se aposentar, “abrindo a porta” para futuros papas fazerem o mesmo. Ele havia previsto originalmente um papado curto de dois a cinco anos. Nove anos depois, não deu sinais de que quer deixar o cargo e ainda tem grandes projetos no horizonte. Além das próximas viagens este ano ao Congo, Sudão do Sul, Canadá e Cazaquistão, em 2023 ele programou uma grande reunião dos bispos do mundo para debater a crescente descentralização da Igreja Católica, bem como a implementação contínua de suas reformas.
Esta semana, um de seus conselheiros e amigos mais próximos, o cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga, disse que as conversas sobre uma renúncia papal ou o fim do pontificado de Francisco eram infundadas. “Acho que são ilusões de ótica, ilusões cerebrais”, disse Maradiaga ao Religion Digital, um site católico espanhol.
Fonte: VEJA