O Arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner foi anunciado pelo Papa Francisco, no último domingo, 29/05, como o novo cardeal católico da região amazônica, cujos desafios são enormes, pois envolvem: a vida humana, encontro de culturas de povos, conflitos ambientais, misérias e riquezas, modelos de economias, vários tipos de violências, ausência de políticas públicas e muita corrupção.
A decisão do Papa não é somente religiosa, de cuidar da vida espiritual das pessoas, da Amazônia ou da organização do catolicismo no espaço da região. Busca, também, a compreensão das realidades e modos de vida dos povos tradicionais, bem como de expor as necessidades que passam as populações, contribuindo com o debate sobre o bioma amazônico e causas socialmente justas tão esquecidas pelos governantes.
O Sínodo de 2019, convocado pelo Vaticano para tratar de tema específico, trouxe o bioma amazônico para o centro das discussões e debateu: a complexa situação das comunidades indígenas e ribeirinhas, em especial os povos isolados; a exploração internacional dos recursos naturais da Amazônia; a violência, o narcotráfico e a exploração sexual dos povos locais; o extrativismo ilegal e/ou insustentável; o desmatamento, o acesso à água limpa e ameaças à biodiversidade; o aquecimento global e possíveis danos irreversíveis à Amazônia; a conivência de governos com projetos e grupos econômicos que prejudicam o meio ambiente.
Os desafios do Cardeal Steiner residem na efetivação de documentos e diagnósticos expostos no Sínodo, com maior participação da Igreja na defesa dos povos indígenas e na construção de uma Amazônia sem violência, sem miséria, sem escravidão imposta pelo grande capital e ecologicamente saudável para todos, um bioma de harmonia entre homem e a natureza.
Não é segredo que a Amazônia brasileira passa por uma forte influência da economia extrativista mineral e do agronegócio, da política armamentista, do crescimento das igrejas evangélicas e da cultura militar que há décadas estão na região por meio da assistência social ou com ocupação de fronteiras.
Soma-se a corrupção e os péssimos gestores que colocam a Amazônia como ambiente povoado por pessoas pobres e cidades com negativos índices de Desenvolvimento Humano Municipal, em que a desigualdade está justamente nos municípios com área de maior concentração de desmatamento.
A Igreja Católica não irá fazer ou substituir o Estado brasileiro na promoção e realização de políticas públicas, mas pode, dentro de suas limitações constitucionais, reclamar por cidadania, por ética na política, por voto consciente e pelo respeito às culturas e manifestações dos povos na Amazônia.
Esse cristianismo católico deve, inclusive, reconhecer seus erros nas diversas relações com os povos indígenas, pois o mundo é outro e os diálogos também.
Não existem margens para erros e desconhecimentos. É preciso fazer ecoar as vozes dos povos tradicionais da Amazônia e reconhecer os seus saberes ancestrais e modos peculiares de vida, tão importantes para a manutenção e equilíbrio entre homem e natureza.
Portanto, nós amazônidas devemos comemorar a nomeação para Cardeal de Dom Leonardo Steiner, um franciscano que tem se dedicado à formação de padres, à vida espiritual do povo brasileiro, na defesa da Amazônia, na promoção da cidadania e na luta por um país justo e de fé.