Eu iria falar neste artigo sobre a teoria da marcha à ré de Umberto Eco, buscando aplicar seus princípios à vida política tupiniquim. Cheguei mesmo a folhear o seu livro “A passo de caranguejo”. Segundo ele, vivemos uma espécie de involucionismo global, no qual vemos surgir novamente temas que pareciam enterrados num passado longínquo. De acordo com sua visão, a sociedade, apesar de seu permanente avançar, quase sempre faz um retorno a situações, questões e práticas que o tempo já havia esquecido, tais como: o fundamentalismo religioso, o choque entre o Islão e o Cristianismo, o anti-iluminismo, entre outros.
Quem conhece o livro poderá arguir que U. Eco tem como cenário a Itália, que as suas problemáticas não são dessemelhantes às brasileiras. É claro, que temos nossas particularidades. Somos uma ponte entre a casa e a rua, vivemos e convivemos entre uma e outra. Mas, uma palavra representativa de um sentimento é comum a todos os brasileiros: saudade. Como assim? Todos nós sabemos que o Brasil tem uma vocação para o passado. Sentimos saudades de um tempo que passou e que não irá retornar. É como se existisse uma força que nos arrastasse para trás, sempre que tentamos ir à frente. A nostalgia de um tempo outrora melhor nos serve de manto protetor nos momentos de angústia e de pavor perante os fatos do presente e diante das incertezas do futuro. Esse sentimento acalma nosso coração e conforta nosso espírito. Podemos dizer que os caminhos vividos no pretérito são lineares e iluminados; os do presente íngremes e sinuosos; os do futuro, labirínticos e inextricáveis.
Cada pessoa encontra um ou mais motivos para sentir saudade de um tempo que passou: um amor, um amigo, uma música, um momento vivido. Enchemos os olhos de saudade quando relembramos um fato ou um sentimento. Mesmo os momentos mais doloridos doem menos, agora. O passado está logo ali, ao lado. Podemos abrir a porta da lembrança e penetrar nas nossas façanhas. Em nossos devaneios as lemos como um livro, passamos a mão, apalpamos, esquadrinhamos, reformulamos as decisões tomadas, sabemos claramente onde erramos. Ah, se pudéssemos voltar! Hoje, elas não possuem mais a dinâmica de um filme, como no momento vivido, são a fotografia de um conjunto de erros e acertos que, se não foi o mais correto, representa o que foi possível fazer naquele período. Trata-se de uma dimensão da vida que acessamos sempre sem cuidado, uma fuga segura para os problemas presentes.
Antítese do caminho iluminado e linear do ontem, se apresenta o futuro. Não há muitas certezas sobre essa dimensão da vida. Pluralidades de dúvidas e de hipóteses antagônicas trazem muitas vezes uma sensação de agonia, quase depressiva. Movimentos prós e contras a preservação do meio ambiente, por exemplo, dividem opiniões de governantes, intelectuais e cientistas, além de pessoas comuns, fazendo com que o futuro do planeta adentre uma área cinzenta. Pode-se muito bem imaginá-lo como um quadro em branco no qual a pintura vai ser traçada de acordo com os valores (sejam lá quais forem) das pessoas que vivem no presente. E elas somos nós, os seres humanos, os sapiens, uma ponte entre o ontem e o amanhã.
Vamos de mãos dadas com Drummond. Como ele, não cantemos um mundo caduco, nem um mundo futuro. Vamos partir em comboios cheios de companheiros na esperança de viver a vida presente da melhor forma. O tempo presente é tão grande, não nos afastemos muito. O tempo é a matéria do humano, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Carlos Santiago – Sociólogo, Analista Político e Advogado