
O morango do amor, uma versão em miniatura da tradicional maçã do amor, se tornou a sensação do momento. A receita é simples: morangos frescos cobertos por uma camada de brigadeiro branco, mergulhados em uma calda vermelha brilhante que lembra o doce original. Mas o que realmente chama atenção são os vídeos que inundam as redes sociais – close-ups do recheio cremoso escorrendo, o som satisfatório da crocância ao primeiro mordida, e uma enxurrada de comentários entusiasmados dizendo “você precisa experimentar isso!”.
Esse bombardeio de conteúdo cria um efeito psicológico interessante. Segundo o psicólogo Thiago Ayala, especialista do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (UFMS/Ebserh), a repetição constante dessas imagens e depoimentos faz com que as pessoas desenvolvam um medo real de estar perdendo algo importante. “Não se trata apenas de provar um doce diferente”, explica Ayala. “É sobre pertencimento social, sobre não querer ficar de fora do que todo mundo está falando e experimentando.”
O especialista em terapia cognitivo-comportamental alerta para os mecanismos psicológicos por trás desse fenômeno. A sensação de que “todo mundo está indo” cria uma pressão social invisível, mas poderosa. Muitas pessoas acabam gastando mais do que deveriam, enfrentando filas intermináveis ou se deslocando para lugares distantes, tudo para ter a experiência que viram nas redes sociais.
Ayala destaque que o problema não está no produto em si, mas na dinâmica de consumo acelerada que as redes sociais criam. “Nossos desejos estão sendo fabricados e descartados numa velocidade impressionante, como se fossem atualizações de aplicativos”, compara. Esse comportamento compulsivo pode ter consequências reais: frustração quando a experiência não corresponde às expectativas criadas, gastos excessivos, e até mesmo impactos na saúde quando se trata de consumo exagerado de doces.
A solução, segundo o psicólogo, não é deixar de aproveitar as novidades, mas desenvolver um filtro crítico. “Antes de correr atrás da próxima febre, vale se perguntar: eu realmente quero isso, ou só quero me sentir incluído na conversa?”, sugere. Essa pausa para reflexão pode ajudar a distinguir entre desejos genuínos e a pressão social das redes.


