O druidismo, Allan Kardec e o mistério da Palestina

Ao contemplarmos a trajetória da humanidade sob a ótica das grandes tradições espirituais, torna-se impossível ignorar a profundidade e a beleza do druidismo, doutrina ancestral que floresceu no coração da Gália céltica e irradiou sabedoria muito antes da expansão do cristianismo.

O druidismo não era apenas uma religião. Era uma síntese refinada de ciência, filosofia e espiritualidade. Seus princípios giravam em torno de três leis universais: a unidade e eternidade de Deus, a perenidade do universo e a imortalidade das almas.

Era uma doutrina de ascensão, onde a alma humana trilha, por meio das reencarnações, um caminho de aprendizado contínuo através dos círculos da existência: Annoufn (o abismo), Abred (a humanidade), e Gwynfyd (a vida celeste).

Os druidas eram médiuns e iniciados, profundamente ligados à natureza, ao magnetismo dos carvalhos sagrados e à sabedoria silenciosa dos oceanos e das estrelas. Possuíam um entendimento profundo das forças cósmicas e fluídicas e sabiam que o ser humano não é apenas um corpo, mas uma centelha divina em evolução.

A semelhança entre as doutrinas dos druidas e o espiritismo codificado por Allan Kardec não é mera coincidência. O próprio Kardec, em comunicações mediúnicas, reconhece ter sido druida em vida anterior, na região de Huelgoat, na Bretanha.

Segundo as mesmas comunicações, o espiritismo moderno representa a ressurreição do druidismo sob uma forma ampliada e purificada, ajustada à evolução da consciência humana e à ciência contemporânea.

Restaurador do saber céltico

A missão de Allan Kardec não foi só codificar o espiritismo com racionalidade e método científico. Foi, sobretudo, resgatar o elo perdido entre as revelações espirituais do Oriente, do cristianismo primitivo e do druidismo europeu.

As comunicações espirituais apresentadas nas fontes apontam que o dolmen sobre seu túmulo em Père-Lachaise simboliza esse reencontro com a tradição céltica, uma herança esquecida pela modernidade, mas viva na memória dos espíritos que trabalham pela regeneração da Terra.

O espiritismo e o druidismo compartilham princípios fundamentais: a crença na pluralidade dos mundos habitados, a reencarnação como meio de ascensão moral, a liberdade do espírito, a comunicabilidade com os desencarnados e o reconhecimento de uma lei universal de justiça, amor e evolução.

Escolhas espirituais

Diante dessa herança espiritual esplêndida dos druidas, uma questão se impõe: por que o Cristo não nasceu entre os celtas, mas sim na Palestina, no seio do povo judeu, cuja doutrina estava ainda impregnada de rituais rígidos, um Deus antropomórfico e visões muitas vezes restritivas da espiritualidade?

As fontes espirituais sugerem que essa decisão não foi casual. A Palestina, à época do nascimento de Jesus, era um ponto de confluência entre o Oriente e o Ocidente, o berço de tradições proféticas milenares, uma encruzilhada onde o impacto da encarnação do Verbo Divino teria o maior alcance possível, tanto geograficamente quanto espiritualmente.

As profecias judaicas prepararam o terreno cultural e místico para a chegada do Messias, ainda que de forma incompreendida por muitos de seus próprios intérpretes.

Do ponto de vista extrafísico, os espíritos afirmam que o mundo céltico já havia recebido, por via interna e intuitiva, grande parte da revelação. Os druidas não precisavam de um redentor externo porque haviam sido preparados para buscar Deus diretamente na natureza e no coração humano.

A Palestina, ao contrário, necessitava de um impacto vibracional profundo, de um abalo sísmico espiritual que sacudisse as bases de um dogmatismo envelhecido e preparasse a humanidade para uma nova era.

Além disso, os espíritos superiores operam segundo uma lógica universal de equilíbrio de forças. O Cristo, expressão suprema do amor, precisava manifestar-se onde a dor, a resistência e o fechamento de consciência eram mais densos. Como um médico que se dirige ao paciente mais grave, o Mestre encarnou num povo em crise interna, sob ocupação estrangeira, para semear luz no deserto do legalismo e da intolerância.

O elo oculto

Não obstante sua origem geográfica, o Cristo não pertenceu só à cultura judaica. Sua essência universal repercute nas doutrinas orientais, nas tradições egípcias, e, como sugerem as fontes espirituais, também na fé dos druidas.

Há registros e tradições ocultistas sustentando que, durante os anos “ocultos” da vida de Jesus (dos 12 aos 30 anos), Ele teria viajado e estudado em escolas esotéricas do Egito, da Grécia e possivelmente até mesmo entre os druidas da Gália e os lamas do Tibete.

O evangelho essencial de Jesus, quando depurado das camadas institucionais acumuladas ao longo dos séculos, revela-se absolutamente compatível com o núcleo da doutrina druídica: a unidade de Deus, o amor ao próximo, a eternidade da alma, a comunicação com o invisível, a ascensão espiritual pela própria transformação interior.

Assim como os druidas intuíam a pluralidade dos mundos e a imortalidade do espírito, Jesus ensinava que “na casa de meu Pai há muitas moradas” e que “o Reino de Deus está dentro de vós”.

Convergência

De certo ângulo, as três grandes revelações da Terra, a oriental, a céltica e a cristã, não são correntes rivais, mas afluentes de uma única Fonte de Sabedoria Superior. Cada uma foi ativada num tempo e num povo específico, conforme a necessidade vibratória da humanidade.

O druidismo permanece como um reservatório de luz ancestral que agora reencontra eco no espiritismo de Kardec, enquanto o Cristo, em sua missão solar, transcende todas as fronteiras para unir os povos sob o ideal do amor e da regeneração.

Jesus nasceu na Palestina, mas sua alma ressoava como uma harpa universal. E, conforme revelam os próprios espíritos, o raio céltico ainda vibra, e despertará novamente, com seus bardos, suas florestas sagradas e sua fé corajosa, para ajudar a humanidade na travessia para a nova era da consciência planetária.

Por Juscelino Taketomi