Investigadores ucranianos descobriram uma “câmara de tortura infantil”, em Kherson

Primeiro foram as valas comuns em Bucha, a destruição massiva de Irpin e depois as “câmaras de tortura” em Kherson, que afinal não eram só para adultos. Investigadores ucranianos descobriram, em Kherson, uma “cela de crianças” ​​​​​​onde alegam que foram detidos e torturados menores durante a ocupação russa.

A reconquista das cidades ucranianas, outrora sob o domínio russo, tem servido para desmascarar a brutalidade das tropas de Putin. Que a tortura faz parte da equação do horror já se sabia, o que não se sabia ainda é que as crianças são também um alvo.

Investigadores ucranianos descobriram uma “câmara de tortura infantil”, na cidade reconquistada de Kherson. A informação foi avançada pelo comissário dos direitos humanos do parlamento ucraniano, Dmytro Lubinets, na quarta-feira.

De acordo com testemunhos dos habitantes na região, a tortura infantil passava por “abusos psicológicos”, onde os menores eram manipulados a acreditar que tinham sido abandonados pelos pais e que não voltariam a casa. As crianças tinham ainda acesso limitado à água e passavam fome, revelou Dmytro Lubinets, citado pelo jornal britânico “The Guardian”.

A “cela das crianças” – era assim que soldados russos se referiam ao local – foi descrita como húmida, pelos ucranianos também detidos no edifício. A única diferença da “cela das crianças” em relação à dos outros prisioneiros é que lhes foram dados três tapetes “finos” para se deitarem.

“Registamos pela primeira vez a tortura de crianças”, afirmou o comissário dos direitos humanos. “Pensei que não era possível atingir mais o fundo depois do que aconteceu em Bucha e Irpin, mas realmente batemos o fundo em Kherson”, lamentou, revelando ainda que entre as vítimas estava um rapaz de 14 anos que foi preso e torturado por ter tirado uma fotografia a equipamento russo danificado.

No entanto, Dmytro Lubinets não especificou durante quanto tempo as crianças foram retidas ou se houve alguma morte.

De acordo com o “Kyiv Independent”, Moscovo já deportou ilegalmente mais de 13 mil crianças para a Rússia. Mas Daria Herasymchuk, conselheira presidencial da Ucrânia para os direitos e reabilitação das crianças, sublinhou que “este não é, infelizmente, o número final”.

Até agora, os procuradores ucranianos encontraram quatro locais de tortura em Kherson, cidade reconquistada pelas tropas de Kiev a 11 de novembro. Os prisioneiros foram sujeitos a choques elétricos, mas também existem relatos de execuções e de espancamentos com barras de ferro.

ONU contabiliza pelo menos 441 crimes de guerra russos

O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, apresentou esta quinta-feira um relatório documentando o assassínio de pelo menos 441 civis na Ucrânia, que podem constituir crimes de guerra.

O total de 441 civis mortos pelas tropas russas inclui 341 homens, 72 mulheres e 28 crianças (20 rapazes e oito raparigas), segundo a mesma fonte.

“Há fortes indícios que as execuções sumárias documentadas no relatório podem constituir homicídios deliberados, um crime de guerra”, enfatizou Türk ao apresentar o documento numa sessão especial do Conselho de Direitos Humanos sobre a Ucrânia.

O relatório, que apresenta em detalhe uma centena destes assassínios, foi preparado após três visitas de campo e concentra-se em particular nas violações cometidas entre 24 de fevereiro e 6 de abril em 102 cidades nas regiões de Kiev, Chernigiv e Sumi.

“Em alguns casos, soldados russos executaram civis em locais de detenção improvisados, enquanto em outras ocasiões o fizeram nas suas casas, quintais, portas ou postos de controlo de segurança no terreno”, disse o Alto-Comissário.

✅ JN