Hidrogênio de Baixo Carbono: Certificação será chave no Brasil

A certificação do hidrogênio de baixo carbono (H₂BC) deixou de ser apenas um detalhe técnico e passou a ser o grande passaporte do Brasil para o futuro da energia limpa.

Imagine o seguinte: o mundo inteiro corre atrás de hidrogênio que realmente reduza emissões de carbono. Europa, Japão e Coreia do Sul já fecharam as portas para qualquer molécula que não venha acompanhada de um selo verde confiável. Quem não tiver certificação simplesmente não entra no jogo – e perde bilhões em contratos, incentivos fiscais e créditos de descarbonização.

É exatamente aí que o Brasil pode virar protagonista. Com uma matriz elétrica quase 85% renovável, temos condições únicas de produzir o hidrogênio mais limpo e barato do planeta. Mas de nada adianta ter o melhor produto se ninguém acredita que ele é realmente é verde. A certificação é o que transforma essa vantagem natural em dinheiro, empregos e liderança global.

O mecanismo é simples, mas poderoso: um selo que acompanha o hidrogênio desde a energia que entra no eletrolisador até o momento em que ele sai da fábrica (o chamado modelo “well-to-gate”). Ele mede cada grama de CO₂ emitido no caminho e só libera o certificado quando o resultado é realmente baixo. Com esse documento na mão, o produtor brasileiro pode bater na porta da União Europeia sem medo do temido Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM), pode acessar o Rehidro, o PHBC e dezenas de linhas de financiamento verde mundo afora.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) levou esse recado forte para a COP30: o Brasil precisa urgente de um Sistema Brasileiro de Certificação do Hidrogênio (SBCH2) confiável, flexível e alinhado com os padrões internacionais. O estudo apresentado analisou os esquemas de dez países líderes e concluiu que o modelo brasileiro deve ser exigente na exportação, mas não pode sufocar o mercado interno com regras impossíveis de cumprir – como obrigar adicionalidade 100% das renováveis logo de cara, algo que encareceria demais o produto e mataria a competitividade.

Enquanto a regulamentação não vem, a indústria já está correndo na frente. No Porto de Suape, em Pernambuco, um eletrolisador de 100 kW produz todos os dias hidrogênio verde rastreável do início ao fim, com sensores IoT e blockchain garantindo que ninguém mexa nos dados. São 30 kg por dia – o suficiente para rodar quatro carros por 100 km cada. É pequeno hoje, mas é a semente de uma revolução.

Em todo o país, mais de R$ 250 milhões já foram investidos em 45 projetos dos Institutos SENAI de Inovação, envolvendo 62 empresas e 17 centros de pesquisa. O objetivo é um só: quando o selo brasileiro chegar, estaremos prontos para inundar o mundo com o hidrogênio mais limpo e competitivo do mercado.

Porque, no fim das contas, a transição energética global não vai ser vencida por quem tem mais sol ou mais vento. Vai ser vencida por quem conseguir provar – com papel passado e certificado na mão – que seu hidrogênio é, de fato, parte da solução. E o Brasil está a um passo de transformar essa possibilidade em realidade.