Grafite dá vida à muralha da ex-Cadeia Pública de Manaus

A muralha da ex-Cadeia Pública Vidal Pessoa, que já foi cenários e mortes e fugas, ganha nova vida com grafites.

Responsável por levar mais cor e vida para a capital amazonense, o Festival Amazônia Walls (FAW) chegou à terceira edição com um destaque que iluminou o mural da ex-Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, na avenida Sete de Setembro, no Centro de Manaus.

No local, grafiteiros locais, nacionais e internacionais se reuniram para colorir a parede externa da cadeia pública de 115 anos, que está desativada desde 2017. O projeto artístico também passou pelo prédio na esquina das avenidas Eduardo Ribeiro com a Sete de Setembro e pelo hotel Mural Living, na rua Dr. Moreira, ambos na região central.

O festival, que iniciou as artes no dia 5 de maio e encerrou no último domingo (9), trouxe 16 artistas para realizar a intervenção. Pioneiro na arte urbana no Amazonas, o organizador Rogério Soares, conhecido no meio como Arab, afirmou que o intuito do projeto é justamente utilizar o grafite como uma ferramenta de conscientização e identidade cultural.

Foto: Brayan Riker

“A nossa busca é por criar uma qualidade artística no Amazonas. Trouxemos alguns dos melhores artistas do nosso estado e do Brasil em um intercâmbio cultural para engrandecer o projeto dentro do estado. O objetivo disso tudo é que o festival seja a cara da Amazônia”, compartilhou Arab, que assumiu a missão de dar cor ao estado.

Em 2020, o FAW foi contemplado no edital do Prêmio Feliciano Lana – Lei Aldir Blanc, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura e desde a primeira edição, em 2017, vêm dando novos ares aos viadutos de Manaus.

Renovação

Por muito tempo, a unidade prisional foi palco de violência e retrato de abandono. Antes de ser fechada, a penitenciária sofreu com rebeliões, fugas e até massacres que resultaram em quatro mortos e uma luta da Defensoria Pública para a desativação oficial – a cadeia teve a interdição adiada e foi reativada até realmente não abrigar mais presidiários.

Foto: Brayan Riker

O prédio centenário também recebeu planos para sediar um Centro de Cultura Popular. A restauração, no entanto, não foi para frente e o local permaneceu abandonado e sendo utilizado como abrigo para moradores de rua até recentemente. Na segunda-feira (10), um trabalho de manutenção foi realizado com serviços de capinagem e roçagem do terreno.

Em nota enviada ao EM TEMPO, a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC), informou que o projeto de revitalização da antiga Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa faz parte do “Programa Valoriza Patrimônio”, que propõe a revitalização de imóveis de valor histórico e arquitetônico administrados pelo Estado.

“No momento, o Governo do Amazonas está em busca de parceria público-privada, visando a obtenção de recursos para a execução do projeto, portanto, sem previsão de início da obra”, garantiu. O local também é tombado como patrimônio histórico amazonense.

Foto: Brayan Riker

Nesse cenário, a ex-penitenciária foi escolhida como uma das telas para a terceira edição do FAW por todo o contexto que significa. “Queríamos levar o grafite para ressignificar esse ambiente que já foi de morte, com vida. Foi uma forma de dar uma energia positiva para esse lugar”, afirmou o organizador.

Arte regional

Um dos artistas que participou do festival foi Robson Duarte, conhecido como Megart. O grafiteiro, que acompanha o projeto desde a primeira edição, ressaltou como um dos objetivos da arte também é enaltecer o regionalismo.

“Desde o início, sempre buscamos representar a nossa cultura. Para o mural do Raimundo Vidal, eu trouxe uma coruja e uma imagem indígena em parceria com outro grafiteiro. Apesar de também termos artistas de fora contribuindo com o festival, o que nós vemos é algo maior que nós”, disse.

Foto: Brayan Riker

Buscando o regionalismo, Megart utiliza a fauna com frequência para apresentar o graffiti. Com experiência desde 2005, o artista vive dessa ocupação desde 2012, e pássaros são as principais figuras retratadas.

Além do grafiteiro, a dupla parintinense “Curumiz”, codinome dos artistas Alziney Pereira e Kemerson Freitas, trouxeram os traços e o colorido que é marca das próprias obras para o festival.

Baiano de nascença e amazonense de coração, Raiz Campos também enalteceu a temática de resistência dos povos indígenas e reverência aos seres da floresta ao participar do projeto.

Próximos passos

A terceira edição estava sendo planejada desde 2019, mas por falta de incentivo, só foi possível executar neste ano. Agora, os próximos passos incluem dar continuidade ao projeto.

“O FAW acabou de se edificar, essa terceira edição serviu para isso. O primeiro foi uma experiência, o segundo foi uma continuidade e para a quarta edição, o que queremos é transformar isso em um festival multicultural. Trazer outras culturas e outros folclores, não somente a nossa capital, mas também o interior”, finalizou.

FONTE: EMTEMPO