Fungo negro chega ao Amazonas e traz alerta diante da pandemia

Na Índia, os hospitais lotados e o número alto de infecções por Covid-19 têm ligação em novos casos de fungo negro | Foto: Getty Images

Cada doença possui suas peculiaridades. Algumas se comportam de uma maneira específica, disseminando-se de diferentes formas. Algumas não chegam a se espalhar por grandes regiões, restringindo-se a algumas populações. Outras, no entanto, podem atingir um país inteiro e até outros continentes. É o caso da mucormicose, doença que vem do ‘fungo negro’

Em meio a ‘ondas’ do novo coronavírus, a morte de pessoas por ‘fungo negro’ se tornou uma preocupação no Amazonas. O Brasil registrou neste ano, até agora, 29 casos de mucormicose, um deles foi confirmado na capital amazonense. A Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) comunicou no domingo, 30 de maio, que um homem de 56 anos, em Manaus, morreu em decorrência da doença.

Até o momento, no entanto, muitas são as dúvidas sobre o que é, de fato, a doença. Definida como mucormicose, sabe-se que ela é uma infecção severa provocada por fungos.

Segundo médicos ouvidos pelo EM TEMPO, a doença atinge órgãos como o pulmão, cérebro e os olhos e acomete principalmente diabéticos e pacientes gravemente deprimidos. Em muitos casos, é preciso retirar cirurgicamente as partes do corpo afetadas pelo micro-organismo, como os olhos, por exemplo.

Doença pode atingir região do olho que em casos graves, pode ser preciso a amputação | Foto: Divulgação/Wikipedia

Morte no Amazonas

Com histórico de diabetes tipo 2, usuário de insulina, o paciente foi internado no dia 12 de abril, no Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio, na Zona Leste da capital e depois atendido no hospital da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), onde morreu no dia 16 do mesmo mês.  O homem também apresentava um quadro de “imunosupressão” (quando o sistema imunológico tem atividade ou eficiência reduzida).

O paciente também apresentou um quadro gripal, mas com resultado negativo do teste RT-PCR para Covid-19. Além disso, também foi detectada uma coceira no olho direito, que evoluiu para uma infecção. Ele chegou a receber a primeira dose da CoronaVac, em Maués, no dia 01 de março, pela Secretaria Municipal de Saúde, mas, dias depois, apresentou sintomas de gripe.

Como ocorre a infecção

Segundo o médico infectologista da FMT-HVD, Nelson Barbosa, a doença atinge pessoas com alguma comorbidade como a diabetes e também pessoas depressivas.

A doença atinge geralmente os seios do rosto, o pulmão e o cérebro. Quando contaminado, o paciente quase sempre fica com os seios da face roxos. O perigo maior é para pessoas que tem diabetes ou alguma imunodeficiência 

Nelson Barbosa, médico infectologista da FMT-HVD

Apesar do alerta, o diretor-presidente da FMT-HVD, o infectologista Marcus Guerra destaca que apesar do caso registrado no estado, a população não precisa entrar em pânico. “Não é frequente a manifestação clínica de pacientes afetados por esse fungo”.

O médico infectologista Nelson Barbosa, da FMT-HVD, destaca que é preciso que a população tenha precaução, evitando entrar em contato com este fungo.

“A população deve evitar a exposição a qualquer tipo de mofo, se for entrar em algum ambiente desse, usar máscara, luva, proteção nos olhos. Esse fungo pode penetrar no corpo humano por vias aéreas, pelas mucosas e depois que contaminado, se a pessoa tiver algum comprometimento imunológico, ele vai desenvolver a forma grave da doença e pode até morrer”, diz.

Para Barbosa, o vírus não deve causar uma endemia, mas é preciso de cautela.

A população precisa ser vacinada o mais rápido possível, pois a doença do fungo junto com o novo coronavírus é um problema. Pessoas com covid-19 também estão propensas a desenvolver a forma mais grave da mucormicose. Isso preocupa mas não deve causar uma endemia”

Nelson Barbosa, médico infectologista da FMT-HVD

Sintomas

Inicialmente, os sintomas da mucormicose são dores de cabeça, inchaço do rosto e febre, conforme apontam os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

Em meio às infecções na Índia, profissionais de saúde locais relataram casos de cirurgias para operar narizes, mandíbulas e até olhos danificados com a doença.

Relação com a pandemia da covid-19

Recentemente, a Índia registrou 9 mil casos da infecção, sendo considerado um ‘pesadelo, dentro do pesadelo’, devido à pandemia no país. Pacientes em processo de recuperação da Covid -19 ou recuperados, apresentaram o maior número de infecções, parecendo haver uma relação direta entre os dois, afirmada, segundo especialistas, pelos esteroides usados para tratar o coronavírus. “Com esse avanço da pandemia, com a ameaça da terceira onda, o grande risco desse fungo aparecer nos pacientes diabéticos e com covid-19 é grande”.

Segundo Barbosa, a relação do fungo com a pandemia é a preocupação, pois muitos já estão acometidos pelo novo coronavírus. “Quando você usa corticoide que é uma coisa que a gente usa em pacientes com a covid-19, o paciente que tem contato com o fungo vai adoecer muito mais rápido. Isso porque o corticoide tem o mecanismo de inibir a ação inflamatória. Então isso diminui a imunidade da pessoa também, expondo mais o paciente ao risco de morte”.

FONTE: EM TEMPO