Funeral de Gorbachev acontece hoje sem honras de Estado

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LONDRES – Mesmo acontecendo em um sábado, o enterro de Mikhail Gorbachev, nesta manhã (3) em Moscou, não contou com a presença do presidente Vladimir Putin, que alegou “agenda de trabalho” para não comparecer.

O último líder soviético, que morreu na segunda-feira (30) aos 91 anos, marcou a história como um reformista que criou a perestroika (conjunto de reformas) e a glasnost (abertura), e que liderou o país entre 1985 e 1991, até a dissolução da União Soviética.

Durante a semana, Vladimir Putin divulgou por meio de seu secretário de imprensa um comunicado informando que não iria ao funeral, mas a mídia estatal divulgou cenas de uma visita solitária e silenciosa feita por ele local onde Gorbachev estava sendo velado, depositando um ramo de flores vermelhas sobre o caixão.

Se Putin esnobou o detentor do Prêmio Nobel da Paz de 1990, muitos russos demonstraram respeito ao ex-presidente. Filas se formaram desde as primeiras horas da manhã diante da Câmara dos Sindicatos, local do velório.

Segundo a Fundação Gorbachev, o local escolhido para o sepultamento é o Cemitério Novodevichy, em Moscou, ao lado de sua esposa Raisa, que morreu de câncer em 1999.

Com a Rússia isolada do mundo devido à guerra na Ucrânia, poucos líderes estrangeiros marcaram presença. Mas vários países prestaram homenagens ao homem lembrado por permitir que países do Leste Europeu se libertassem do domínio soviético e por assinar um pacto histórico de redução de armas nucleares com os Estados Unidos.

A Alemanha anunciou que as bandeiras seriam hasteadas a meio mastro em Berlim no sábado em memória de Gorbachev, que reteve as tropas soviéticas quando o Muro de Berlim caiu, em 1989.

O jornal ucraniano Kyiv Post informou que o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, foi o único governante ocidental a participar da cerimônia.

Diferenças entre Putin e Gorbachev não ficaram de lado no enterro
O distanciamento do governo e do presidente Vladimir Putin das despedidas ao líder aclamado no mundo foi objeto de críticas. Não foi decretado um dia nacional de luto, como ocorreu com outras mortes de figuras políticas importantes do país.

Uma das poucas concessões a Gorbachev foi uma guarda de honra ao lado do caixão durante o enterro.

As divergências entre Gorbachev e Putin eram abertas. O atual presidente, que utiliza o passados de glórias soviético como uma de suas narrativas para justificar a invasão da Ucrânia, considerava a dissolução da União Soviética, atribuída a Gorbachev, como “a maior catástrofe geopolítica do século”.

Por seu lado, Gorbachev era forte crítico de políticas do governo Putin, e manifestou-se contra a guerra com a Ucrânia dois dias depois da invasão.

No último comunicado publicado pela Fundação Gorbachev, ele disse:

Em conexão com a operação militar da Rússia na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, afirmamos a necessidade de uma cessação precoce das hostilidades e do início imediato das negociações de paz. Não há nada mais precioso no mundo do que vidas humanas.

As negociações e o diálogo com base no respeito mútuo e no reconhecimento de interesses são a única forma possível de resolver as contradições e os problemas mais agudos. Apoiamos quaisquer esforços que visem a retomada do processo de negociação.

Gorbachev morreu no hospital, mas a causa da morte não foi divulgada. Ele vinha sendo internado com regularidade recentemente.

Nomeado como Secretário-Geral do Comitê Central do PCUS em 1985, ele comandou o Soviete Supremo da então União Soviética criou o cargo de presidente e elminou o artigo da constituição sobre a liderança do partido.

Gorbachev renunciou ao cargo de presidente em 25 de dezembro de 1991, quando a União Soviética deixou de existir, mas continuou com papel de destaque na política internacional.

Em 1990, recebeu o prêmio Nobel da Paz. Apoiador da liberdade de expressão e de imprensa, ele usou parte do dinheiro recebido no prêmio para financiar o jornal independente Novaya Gazeta.

Em 2021, o fundador e editor do jornal, Dimitry Muratov, ganhou o Nobel da Paz por desafiar a censura e a repressão do regime de Vladimir Putin.

Por Midiatalks