França oferece arsenais nucleares à Europa em resposta a ameaças de Trump e Putin

A declaração de Macron ocorre em meio a tensões provocadas pela aproximação entre Donald Trump e Vladimir Putin e ao risco de abandono dos aliados europeus pelo republicano.

FRANÇA — Diante das crescentes incertezas sobre o papel dos Estados Unidos na segurança europeia e da escalada das ameaças russas, a França decidiu reavivar sua postura nuclear como um instrumento de proteção coletiva. O presidente Emmanuel Macron afirmou no sábado (1º) que está disposto a discutir o uso de seus arsenais atômicos para defender outros países europeus contra as pressões vindas do Kremlin. A declaração ocorre em meio a tensões provocadas pela aproximação entre Donald Trump e Vladimir Putin e ao risco de abandono dos aliados europeus pelo republicano. “Sempre houve uma dimensão europeia para os interesses vitais da França em sua doutrina nuclear”, declarou Macron à TV portuguesa RTP.

A França, que possui uma cadeia de comando nuclear independente da Otan, conta com quatro submarinos nucleares armados com mísseis estratégicos e cerca de 50 mísseis táticos ASMPA lançados por caças Rafale modificados. Embora o número seja limitado, a oferta de Macron sinaliza uma tentativa de fortalecer a autonomia estratégica europeia em resposta ao cenário turbulento criado pelas ameaças de Trump e às 1.710 ogivas prontas para uso sob o controle de Putin. No entanto, a proposta enfrenta resistências, como a histórica relutância da Alemanha em aceitar armas nucleares estrangeiras em seu território e críticas internas, lideradas pela ultradireita francesa. Marine Le Pen, por exemplo, afirmou que “a dissuasão nuclear francesa deve permanecer francesa”.

O contexto atual também expõe divergências dentro da Europa. Enquanto a Polônia intensifica seu pedido para ser incluída no guarda-chuva nuclear tático dos EUA após a instalação de armamentos russos na vizinha Belarus, o Reino Unido mantém sua postura alinhada aos Estados Unidos, dificultando uma cooperação europeia ampliada. Além disso, especialistas consideram irrealista imaginar um confronto nuclear entre Rússia e Europa que não envolva os EUA, dada a interdependência estabelecida pelos tratados da Otan.

Apesar desses desafios, a retórica de Macron reflete uma tentativa de responder ao vendaval político causado por Trump e reafirmar a importância da cooperação europeia em tempos de incerteza global. A questão nuclear volta ao centro do debate europeu em meio à pior crise militar do continente desde a Segunda Guerra Mundial, destacando a urgência de soluções que equilibrem segurança, soberania e diplomacia.