
SÃO PAULO — O clima de tensão que marcou a Spaten Fight Night 2 pode ter consequências jurídicas graves. O filho do ex-boxeador Popó, Rafael Freitas, está sendo acusado de tentativa de homicídio pelo advogado de Wanderlei Silva, Claudio Dalledone, após agredir o ex-lutador de MMA no fim do polêmico confronto realizado na noite de sábado.
O episódio ocorreu logo após a desclassificação de Wanderlei, aos 49 anos, por aplicar três cabeçadas em Popó durante o quarto round — uma manobra considerada ilegal, que evitou sua derrota por nocaute diante do ex-bicampeão mundial de boxe, 22 quilos mais leve e 18 centímetros mais baixo.
Com o resultado anunciado, equipes dos dois lados invadiram o ringue, desencadeando uma verdadeira batalha campal. Em meio à confusão, Rafael Freitas desferiu dois socos violentos contra Wanderlei: o primeiro na nuca, quando o ex-lutador estava de costas, e o segundo diretamente no olho direito, derrubando-o inconsciente.
“O processo será contra quem agrediu o Wanderlei — e essa pessoa está identificada”, afirmou Dalledone em entrevista ao canal Combate. “Além disso, moveremos ações contra Popó por incitar esse tipo de violência. Ele já havia dito, em áudio vazado por Fabrício Werdum, que ‘todo mundo ia apanhar no ringue’. Isso é clara incitação.”
O advogado classificou o ataque como “covarde e criminoso”, destacando a desproporção da situação: “Vinte homens contra três. Um homem de quase 50 anos caído no chão. Isso beira a tentativa de homicídio pela intenção que havia ali.”
Rafael Freitas, por sua vez, alegou legítima defesa. Em nota, afirmou que entrou na briga após ver seu pai e irmãos sendo agredidos pela equipe de Wanderlei — incluindo o filho do ex-lutador, o treinador André Dida e o próprio Werdum, que também desferiu golpes contra a equipe de Popó.
“Peço desculpas ao Wanderlei e à sua família. Não foi minha intenção machucá-lo. No calor do momento, só pensei em proteger minha família”, disse Rafael.
Wanderlei, que passou a madrugada internado com o nariz quebrado e sete pontos ao lado do olho direito, rebateu a versão: “Como todos viram nos vídeos, foi a equipe do Popó que invadiu o ringue xingando e mostrando o dedo. Eu estava apenas tentando separar a briga quando levei os socos — um na nuca, outro no olho. Fui agredido covardemente.”
O áudio citado pelo advogado, gravado por Werdum antes do combate, mostra Popó dizendo: “Vai todo mundo apanhar em cima do ringue”. Segundo Werdum, a gravação foi feita justamente para alertar sobre os riscos de escalada de violência.
A repercussão do episódio já afeta o futuro do evento. A Spaten, patrocinadora do combate, viu sua imagem associada a cenas de violência transmitidas ao vivo para milhões de espectadores. Internamente, há dúvidas se haverá uma nova edição da Spaten Fight Night.
Além disso, a Globo, emissora do evento, determinou que, se houver novas lutas de exibição, elas serão exibidas gravadas e editadas, justamente para evitar a repetição do constrangimento público causado pela briga generalizada entre as equipes de dois ícones do esporte brasileiro — Popó, 50 anos, e Wanderlei Silva, 49.
Enquanto isso, o filho de Popó pode responder criminalmente por tentativa de homicídio. E o mundo das lutas assiste, em silêncio, à possibilidade de que o ringue dê lugar ao tribunal.


