Recebi de forma afetuosa, das mãos de Inácio Santiago, de Roger Bueno e de Neto Cavalcante, responsáveis pela direção e pelo jornalismo da Band Amazonas, o livro “Debate na Veia” de autoria do jornalista Fernando Mitre cuja leitura recomendo pelos detalhes dos bastidores da história recente do Brasil: os movimentos políticos para o golpe Civil-Militar de 64; as repressões e os atentados da Ditadura; a transição democrática; os primeiros e os últimos debates presidenciais televisivos que pararam o Brasil. Tudo narrado com veracidade e muita ética por um intelectual que se dedica à democracia e ao amor pelo Brasil.
Diz o dito popular que o homem é mais filho do seu tempo que filho dos seus pais. É uma expressão muito usada nas ciências humanas. E cabe muito bem quando da reconstrução da trajetória estudantil e profissional de Fernando Mitre, hoje diretor nacional de jornalismo da Rede Bandeirantes. Como estudante da Universidade de Minas Gerais – UMG, participou das movimentações políticas da época, não se furtando ao idealismo do seu tempo estudantil, com intervenção em reunião e encontro de jovens que sonhavam com mudanças.
Foi no jornalismo que a sua contribuição teve mais destaque e importância para o país. Ainda, em Minas Gerais, trabalhou em vários jornais e depois, já em são Paulo, ajudou a implantar o Jornal da Tarde, do grupo Estadão, sendo seu diretor por 13 anos, contribuindo para a transição democrática do país e com o movimento pelas Diretas Já, com reportagem e manchetes impactantes das manifestações populares. O povo desejava votar para Presidente da República.
Nos bastidores da política e do jornalismo, ele contribuiu para popularizar os debates de ideias e presidenciais televisivos, nos últimos 40 anos. Em pleno debate na feitura da Constituição de 1988 sobre o melhor sistema de governo para o Brasil, conseguiu reunir os ex-governadores Franco Montoro (SP) e Leonel Brizola (RJ), o primeiro defendia o parlamentarismo e o segundo o presidencialismo. Uma arena eletrônica que ajudou o país e os congressistas nas decisões.
Mitre esteve presente na elaboração e na organização de outros debates históricos. Em um momento de escolha do presidente por meio de eleições, em 1989, em plena redemocratização, 09 (nove) candidatos concorrentes, com ideologias diversas e de origens sociais diferentes, envolvendo socialistas, liberais, progressistas, conservadores e comunistas, para propor e responder perguntas, eles passaram pelo primeiro debate presidencial sob sua coordenação.
E, depois, tornaram-se modelos e experiências corretas para outros debates em outras emissoras, como no segundo turno de 1989, entre os candidatos Lula da Silva e Fernando Collor. Quem não lembra, também, do embate entre Lula e Bolsonaro, em 2022, ou entre Dilma e Aécio Neves? Tiveram a experiência jornalística e intelectual de Mitre na organização e nas negociações para a realização dos eventos.
O Fernando Mitre é honesto nas suas narrativas dos fatos. Cita seus equívocos, seus erros e faz conclusões sobre os diálogos que manteve com os grandes personagens da história do Brasil, nos últimos 60 anos. Nunca deixou de defender reformas importantes para o país, é sempre insistente quando diz que falta uma reforma política.
O livro Debate na Veia não é uma obra de ficção e nem trata de fontes sigilosas para explicar o Brasil. Com uma narrativa de “sanfona”, cita fatos do presente e traz relação com o passado; narra o passado e faz conexões com o tempo presente. E mostra temas e problemas nacionais que são sempre recorrentes no país. Assim, o Brasil vai seguindo e o Fernando Mitre vai contribuindo para o debate público.
Carlos Santiago: Sociólogo, Cientista Político e Advogado.