MANACAPURU, AM — O que deveria ser um espetáculo da natureza, com cardumes de jaraquis subindo o rio para a piracema, transformou-se em uma cena de vandalismo ecológico na saída do lago do Miriti, em Manacapuru, no Amazonas. Na manhã desta quinta-feira (09/01), o Batalhão Ambiental da Polícia Militar interveio e encerrou uma “farra do jaraqui” que já durava dias, caracterizada pela pesca predatória com o uso massivo de malhadeiras.
A piracema, período em que os peixes migram para áreas de reprodução, transforma os rios da Amazônia em rotas de vida para espécies como jaraqui, pacu, e curimatã. No entanto, a saída dos peixes do lago do Miriti, localizado quase na Zona Urbana de Manacapuru, foi bloqueada por uma densa rede de malhadeiras sob a ponte da rodovia AM-070, que liga Manaus a Manacapuru. Este ponto, crucial para a passagem dos peixes, tornou-se um gargalo onde os cardumes ficaram presos, tentando desesperadamente escapar das redes, como evidenciado por vídeos que circularam nas redes sociais.
A ação predatória não só interrompeu o ciclo de vida dos peixes mas também impactou diretamente a economia local, uma vez que toneladas de jaraquis foram capturadas e comercializadas em Manacapuru e Manaus. A prática, porém, não é sustentável e pode levar à diminuição das populações de peixes na região.
Durante a operação, a Polícia Militar apreendeu diversos artefatos de pesca ilegal. Oficiais do Comando Ambiental, presentes na apreensão, afirmaram que a vigilância será mantida no lago do Miriti até que os cardumes possam seguir seu curso natural. A proximidade com o rio Solimões, onde o espaço é amplo e a vigilância pode ser mais eficaz, oferece esperança para a continuidade da piracema sem maiores interferências humanas.
Este episódio levanta questões sobre a necessidade de um manejo mais rigoroso da pesca durante a piracema, período sensível para a biodiversidade amazônica. A comunidade local e as autoridades ambientais são chamadas a refletir sobre práticas que garantam tanto a subsistência quanto a preservação dos recursos naturais, evitando que a fartura de hoje não se transforme na escassez de amanhã.