Dois recentes estudos da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) revelam como ações humanas alteram a atividade de mosquitos transmissores de malária na região amazônica. Com início em 2015, o trabalho passou por quatro Estados amazônicos: Acre, Amazonas, Roraima e Pará.
Em artigo publicado no início de 2021, na Scientific Reports, o biólogo do Setor de Pós-Graduação, Pesquisa e Inovação, Centro Universitário Saúde ABC (FMABC), Gabriel Laporta, revela dados coletados em pesquisa de campo que durou de 2015 a 2017 em 12 localidades na Amazônia.
As cidades analisadas foram: Acrelândia, em janeiro e agosto de 2015, Cruzeiro do Sul, em abril de 2015, Mâncio Lima, em maio de 2015, Lábrea, em julho de 2015, Machadinho do Oeste, em outubro de 2015, Pacajá, em abril de 2016, Humaitá, em julho de 2016, Itacoatiara, em novembro de 2016, Rodrigues Alves, em junho de 2017, Guajará, em julho de 2017, Presidente Figueiredo, em agosto de 2017, e São Gabriel da Cachoeira, em novembro de 2017.
Os trabalhos de laboratório se iniciaram tão logo as amostras de campo chegavam aos pesquisadores e se estenderam até 2019. “Depois fizemos análises com imagens de satélites e utilizamos modelos estatísticos para achar os resultados”, disse. “As motivações para pesquisa estão relacionadas aos efeitos do desmatamento na emergência de malária em populações humanas”, completa Gabriel.
A doença da malária possui mais incidência em lugares onde o desmatamento acumulado atingiu cerca 50% da cobertura vegetal fragmentada. As equipes de pesquisa coletaram mais de 25 mil espécimes de mosquitos, de 173 espécies em 17 gêneros diferentes.
A pesquisa analisou espécies e para cada mosquito foi testado a presença de parasitos da malária. “Quanto mais mosquitos infectados, maior o risco de adquirir malária. A partir daí, associamos o número de mosquitos infectados com o desmatamento acumulado (de 0 a 100%) na paisagem”, explica Laporta.
“Quando a paisagem passa de 100% de mata para 50% de mata, abrem-se clareiras onde o mosquito desenvolve em criadouros no solo. Esse mosquito passa a ser dominante e as fêmeas dessa espécie são vorazes em picar e adquirir sangue de pessoas que moram em volta”, afirma o biólogo.
O biólogo analisou também que se a pessoa estiver com a doença da malária, o mosquito se infecta e passa a infectar outras pessoas da região e/ou comunidade. O mosquito é de uma espécie chamada Anopheles darlingi. “Essa espécie está muito bem adaptada às clareiras de mata e aos igarapés na Amazônia”, disse o pesquisador.
O segundo artigo é do biólogo Leonardo Suveges Moreira Chave, que afirma que quando há alterações causadas pelo homem na vegetação da Floresta Amazônica, consequentemente a biodiversidade de mosquitos diminui, levando o Anopheles (Nyssorhynchus) darlingi a se tornar o principal vetor da malária na Amazônia, aumentando o risco de transmissão da doença.
FONTE: Agência Cenarium