Enfermeira confessa à PF que emprestou senha para apagar registros de vacinação de Bolsonaro

Servidora disse que atendeu a pedido de sua chefe e que não viu 'má fé' no pedido

Em depoimento à Polícia Federal (PF), a enfermeira Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva disse que emprestou sua senha para o então secretário municipal de governo de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha, excluir registros de vacinação contra a Covid-19 do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A PF investiga um grupo suspeito de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde. Os fatos são apurados na Operação Venire. O conteúdo do depoimento foi divulgado incialmente pelo jornal “Folha de S.Paulo” e confirmado pela TV Globo.

De acordo com as investigações, os sistemas do Ministério da Saúde indicam que duas doses de vacinas contra Covid teriam sido aplicadas em Jair Bolsonaro.

Os dados, segundo os investigadores, foram inseridos no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações em 21 de dezembro de 2022 por Brecha.

Uma semana depois, no dia 27 de dezembro, as informações foram excluídas do sistema por Claudia, sob alegação de “erro”. Ela foi um dos alvos da operação.

À PF, a servidora afirmou que foi procurada pelo secretário municipal de governo, mas não recebeu informações sobre quais registros seriam excluídos sob a justificativa de não “envolvê-la em problemas, uma vez que se tratavam de pessoas relevantes e conhecidas”.

Cláudia afirmou que emprestou a senha, porque acreditava que a exclusão dos registros seria “idônea” e disse não ter visto “qualquer má fé” no pedido. A enfermeira disse ainda que só começou a ajudar Brecha após solicitação de sua chefe, a secretária de Saúde, Célia Serrano.

A servidora declarou à PF que não conhece pessoalmente Brecha e que os dois apenas trocaram mensagens de whatsapp.

Operação Venire

Conforme as investigações, teriam sido forjados dados nos cartões do hoje ex-presidente Jair Bolsonaro, da filha de Bolsonaro, hoje com 12 anos, do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, da esposa e da filha dele.

Essa suposta falsificação teria o objetivo de garantir a entrada de Bolsonaro, familiares e auxiliares próximos nos Estados Unidos, burlando a regra de vacinação obrigatória.

Após a operação, Bolsonaro afirmou que “não houve adulteração” da sua parte. Na operação, batizada de Venire, seis pessoas foram presas pela PF:

  • Mauro Cid Barbosa, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro;
  • o sargento Luis Marcos dos Reis, que era da equipe de Mauro Cid;
  • o ex-major do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros;
  • o policial militar Max Guilherme, que atuou na segurança presidencial;
  • o militar do Exército Sérgio Cordeiro, que também atuava na proteção pessoal de Bolsonaro;
  • o secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha.

Outro lado

O assessor de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, disse que o presidente não sabia do uso das senhas e que não precisava de comprovante de vacinação para entrar nos EUA.

“O presidente Bolsonaro não se vacinou, como já disse reiterada vezes. Não conhece o uso de quaisquer senhas que tenham sido usadas em seu nome ou para uma suposta vacinação com o objetivo de viajar para os EUA. Como já informado à imprensa, ele não precisava de comprovação para ingressar nesse país”.

Bernardo Fenelon, advogado de Mauro Cid, afirmou que, “por respeito ao Supremo Tribunal Federal, toda e qualquer manifestação defensiva será feita nos autos do processo”.

Já a Prefeitura de Duque de Caxias informou que “através da Secretaria Municipal de Saúde, após a divulgação da operação Venire, da Polícia Federal, instaurou uma sindicância, no dia 04/05/2023, para apurar os fatos e responsabilidades acerca das circunstâncias supostamente ocorridas no âmbito municipal”.